“Só os profetas enxergam o óbvio,” já dizia o cronista Nelson Rodrigues. Sim, a solução de problemas aparentemente insolúveis pode estar na identificação de obviedades. Pois bem, para a escrita de um texto eficaz no Enem, é necessário o domínio de três saberes essenciais: O QUE dizer, COMO dizer e DIZER.
Inicialmente, a proposta de texto exige que o aluno desenvolva uma análise crítica acerca de determinado problema social presente no Brasil contemporâneo. Em outras palavras, é preciso encontrar O QUE dizer sobre o tema proposto. Para isso, há três caminhos a serem percorridos.
Primeiro, a leitura atenta da frase temática e dos textos motivadores (eles trazem informações sobre o tema e suas implicações, sugerindo percursos argumentativos e ideias para a proposta de intervenção – exigência do último parágrafo).
Em seguida, a formulação de perguntas sobre o tema. Por que isso acontece? Essa pergunta investiga as causas do problema. O que isso provoca? Tal questão busca as consequências do entrave. Qual a importância do que está sendo negligenciado? Esse questionamento visa encontrar direitos fundamentais que estão sendo precarizados. Desde quando isso acontece? Para a investigação das raízes históricas da problemática. Enfim, o tema pode suscitar muitas perguntas – e é bom que seja assim, pois elas são o ponto de partida da análise argumentativa exigida.
O terceiro caminho consiste na busca de repertórios socioculturais para a fundamentação das respostas, ou seja, a comprovação das ideias apresentadas, pois o discurso dissertativo-argumentativo possui finalidade persuasiva: há que convencer o leitor de que a análise desenvolvida é válida, por isso, crível e considerável. E o que vale como repertório? Tudo aquilo que compõe a bagagem cultural do aluno: livros, filmes, séries, músicas, além, é claro, dos conteúdos estudados ao longo de sua formação, com destaque para o pensamento de grandes autores acerca de temáticas universais.
Após encontrar O QUE DIZER, vem o desafio de saber COMO fazê-lo. O primeiro passo é dominar a estrutura textual – melhor dizendo, a macro e a microestrutura do discurso dissertativo. A macroestrutura é uma velha conhecida: o texto é composto de três partes – introdução (um parágrafo), desenvolvimento (dois parágrafos) e conclusão (um parágrafo). Sim, a dissertação ENEM consagrou essa formatação do discurso em quatro parágrafos. Já a microestrutura envolve os movimentos discursivos (ou ações discursivas) de cada um desses parágrafos.
Tais movimentos merecem ser detalhados. Na introdução, são três: contextualizar o tema, ligar com o recorte temático (o problema) e finalizar com a apresentação da tese (a opinião, preferencialmente acompanhada dos dois argumentos que serão desenvolvidos ao longo do texto). No desenvolvimento, quatro ações: abrir com tópico frasal (o argumento); trazer repertório para fundamentação; fazer a análise, associando o repertório à problemática; fechar o raciocínio desenvolvido, normalmente ligando-o à tese defendida. Há a possibilidade de trazer a análise antes do repertório, vale pontuar. Na conclusão, três movimentos: reforçar a tese e/ou a necessidade de medidas interventivas; apresentar a proposta de intervenção, contendo os cinco elementos exigidos (agente, ação, modo, finalidade e detalhamento); e, se ainda houver linha disponível na folha de texto (são 30 ao todo), elaborar uma frase conclusiva, possivelmente resgatando a contextualização inicial.
Importante: todos esses movimentos devem estar articulados – por isso, é imprescindível o uso de conectores de texto (conjunções, advérbios, pronomes, expressões resumitivas, etc.), explicitando a relação existente entre eles.
Finalmente, sabendo O QUE dizer e COMO DIZER, só falta DIZER, habilidade que sublinha, evidentemente, a necessidade do domínio da norma padrão escrita da língua. Aqui, entram os indispensáveis conhecimentos gramaticais e a escolha de palavras. Como dominar tudo isso? Praticando os verbos destacados na última coluna: querendo, vendo, lendo e… escrevendo. Obviamente!