É madrugada. Lembrei-me de quando o meu avô me contou sobre a descoberta que fez. Eu devia ter uns dezessete anos. Ele me chamou no quarto e pediu que me sentasse na cama, ao lado dele. Olhando-me demoradamente, tocou as mãos rugosas em minha face e falou:
— Eu descobri o segredo do tempo.
Meu avô era viúvo, franzino, debilitado; tinha quase oitenta anos. Setenta e seis ou sete. Não me lembro. Passou a morar conosco desde que mamãe suspeitou que estivesse caduco por dizer coisas estranhas. Nos dias de folga da cuidadora, meu irmão ou eu assumíamos os cuidados, enquanto nossos pais estavam no trabalho.
— Descobri o segredo do tempo. Tarde demais, para mim. Mas para você, não. Por isso, só partirei depois de revelá-lo a você.
Não me incomodava de esvaziar o penico, de barbeá-lo, de levar as refeições para ele e de lhe dar medicações; tampouco de ler Machado de Assis, o autor preferido dele. O que me aborrecia era ouvi-lo dizer coisas sem sentido.
— Um dia, talvez, estará tão velho e debilitado quanto eu. Mas para que não cometa os mesmos erros que cometi, vou lhe contar o segredo do tempo.
— Espere um pouco, vô. Vou buscar o seu remédio. Já volto.
Com a mísera energia que lhe restava, ele segurou meu braço.
— Antes me diga: o que pretende para o seu futuro?
Eu pretendia muitas coisas. Tinha milhares de sonhos. Respondi:
— Ser rico. Muito rico.
Ele suspirou. Seus olhos marejaram.
— O que é ser rico para você?
— Ter muito dinheiro, vô. Ser famoso. Morar em mansões. Conhecer o mundo. Possuir carros luxuosos. Viver rodeado de mulheres lindas…
Ele apertou a minha mão.
— Se você viver por esses objetivos, não se contentará com as conquistas. Será devorado pela ambição e seus derivados. Nada disso é riqueza. Nada disso oferece a genuína felicidade.
Balancei a cabeça discordando. Sem perceber, ele continuou:
— As pessoas perdem tempo com o desnecessário, na maioria das vezes para exibicionismos.
— Você precisa tomar o seu remédio, vô. Vou buscar.
— Espere. Preste atenção. A verdadeira riqueza é tudo aquilo que toca o coração, que enleva o espírito. Delicie-se com luares, estrelas, pores do sol, primaveras. Colecione sorrisos, ame sem condicionantes. E, acima de tudo, creia em Deus. Quanto ao tempo, o segredo é saboreá-lo sem urgências, e não estrangulá-lo por materialidades.
— Está bem, vô. Preciso buscar o seu remédio.
Fui. Quando voltei, ele havia partido.
Confesso que vivi sem dar importância àquele ensinamento. Hoje, com setenta e oito anos, compreendo que os caducos éramos nós.