
leitora voraz de livros e já participou de vários concursos literários
Era um pedaço de doce que se desfazia na boca, sem pressa, como quem sabe que o que importa é o instante. O doce da vovó tinha esse poder: uma combinação de açúcar, afeto, amor e nostalgia que, ao ser saboreado, transportava quem o provava a um mundo mais lento e a um tempo em que as horas pareciam mais longas.
Não era um doce sofisticado, nem o mais bonito, como aqueles das vitrines das confeitarias modernas. Era simples, humilde, mas tinha um brilho e sabor especial. Quem já havia experimentado sabia: seu encanto não estava na aparência, mas no gesto de carinho que o acompanhava. Era a brevidade da vovó.
Era preparado com delicadeza, paciência. Ela tinha a certeza de que estava criando algo que teria valor não pelo sabor, mas pela lembrança que deixaria. O doce da vovó tinha uma textura que derretia sem esforço, se entregando ao paladar de forma tão suave que não fazia barulho, apenas um sussurro.
Era breve, como tudo o que a vovó fazia. Não era um doce para ser guardado ou replicado, mas para ser vivenciado no exato momento em que estava ali. Talvez por isso o nome de “Brevidade”. Essa iguaria gastronômica é bem peculiar: parece tanto com um bolo quanto com um pão, e quanto ao sabor, é bastante doce, pouco frutado, lembrando a nossa infância quando o experimentamos.
A brevidade da vovó talvez seja o lembrete de que as coisas mais simples são as mais preciosas, e que a verdadeira doçura está naqueles momentos que, embora breves, nunca nos deixam. Ah, vovó, que saudades de você, que saudades de suas brevidades. Seu sabor jamais saiu da minha boca.