Setembro chega e, com ele, a campanha do Setembro Amarelo, símbolo da prevenção ao suicídio e da valorização da vida. Mas será que já não está na hora de irmos além das mensagens de alerta?
A ciência nos mostra que saúde mental não é apenas sobre a mente, é sobre corpo, interação corpo e mente, propósito, relações e até o que colocamos em nosso prato.
Hoje sabemos que práticas como exercício físico, meditação, yoga e acupuntura não são recursos alternativos sem comprovação, pelo contrário, são estratégias respaldadas por evidências científicas na redução da ansiedade, depressão e estresse. O cuidado integral não substitui os tratamentos convencionais, mas vem para auxiliá-los, oferecendo ao paciente mais recursos de enfrentamento e recuperação.
Outro ponto fundamental vem sendo chamado de “fisiologia da esperança”. Pesquisas recentes comprovam que propósito de vida e espiritualidade, mesmo que fora de contextos religiosos, atuam como fatores de proteção à saúde mental, diminuindo o risco de pensamento suicida. Terapias de propósito, escrita reflexiva e mindfulness estão sendo utilizados em programas clínicos de prevenção.
A ciência também avança em áreas onde não damos a devida importância. Atualmente sabemos que o intestino tem íntima relação com o corpo e consequentemente o cérebro. Descobriu-se que a microbiota intestinal influencia diretamente o humor e os sintomas depressivos, onde ter uma alimentação equilibrada, sono de qualidade e probióticos passam a ser vistos como aliados fundamentais da saúde mental.
Outro aspecto muitas vezes negligenciado no debate sobre saúde mental é o papel do movimento do corpo. Práticas como Pilates, fisioterapia e osteopatia não se restringem apenas ao alívio de dores físicas ou à reabilitação funcional. Estudos mostram que o movimento orientado, consciente e integrado ao corpo favorece a liberação de neurotransmissores ligados ao bem-estar, melhorando a qualidade do sono e reduzindo os níveis de estresse.
O Pilates clínico, por exemplo, auxilia no fortalecimento físico e no equilíbrio postural, mas também promove respiração profunda e foco corporal, elementos associados à redução da ansiedade. A fisioterapia, além de tratar e prevenir lesões, contribui para devolver autonomia ao paciente, fortalecendo sua autoestima e qualidade de vida. Já a osteopatia, por sua abordagem global, atua não apenas em disfunções musculoesqueléticas, mas também na regulação do sistema nervoso autônomo, com impactos positivos no controle da dor crônica, na tensão emocional e na sensação de vitalidade.
Integrar essas práticas ao cuidado em saúde mental significa reconhecer que mente e corpo são indissociáveis. Quando a dor física diminui, quando o corpo se move com liberdade e quando a respiração volta ao ritmo natural, também a mente encontra mais espaço para equilíbrio e esperança.
E há ainda o poder daquilo que muitas vezes esquecemos: pertencer. Estudos demonstram que redes de apoio familiar, comunitário ou de grupos terapêuticos funcionam como barreiras contra o suicídio. Em outras palavras, cuidar da saúde mental também significa investir em conexões humanas.
O Setembro Amarelo deste ano nos convida a olhar para a saúde mental como saúde integral. Mente, corpo, alimentação, sono, espiritualidade e vínculos sociais são peças que se encaixam em um mesmo quebra-cabeça.
Se quisermos realmente transformar vidas, precisamos abraçar essa visão holística, sem abrir mão da ciência. Esse é o caminho de um cuidado que não apenas previne, mas também promove a vida.