
O rapaz foi ao Rio de Janeiro visitar a tia. Era a primeira vez que viajava de ônibus. Oito horas de estradas. Chegou esfarrapado. Desceu no terminal rodoviário e foi tomar café com pão de queijo. Pagou uma fortuna. De nada adiantou esbravejar.
Saindo da rodoviária, perguntou ao homem de chapéu Panamá-chinês onde ficava o coletivo para Queimados. O homem apontou aleatoriamente para o pátio. O rapaz entendeu que era o ônibus lotado prestes a seguir viagem. Correu e se enfiou entre os passageiros. Ficou a um fio de cabelo da loira e do loiro rechonchudos que viajavam em pé, um de frente para o outro, encostados em bancos. O rapaz segurou na barra lateral quando o ônibus iniciou a viagem.
Pela estrada cheia de buracos, apesar dos solavancos, tudo corria bem até aparecer o veículo na contramão. O motorista do ônibus enfiou o pé no freio. Screeech! Iééé´! Alguns passageiros bateram a cabeça na janela; outros, no banco da frente. Quem levou a pior foi o rapaz que, ao ser arremessado, ficou entalado entre os abdomens do casal rechonchudo. Um engraçadinho disparou:
— Olha o sanduichão! Sanduichão de gente entalado no corredor. Quem vai querer?
Serpenteando os passageiros, o motorista foi avaliar a situação.
— Hum! Que coisa! Nunca vi isso! Alguém pode me ajudar aqui? Eu puxo o braço dele e alguém puxa o braço dela para que o rapaz fique livre.
O homem de peitoril de aço se ofereceu.
— No três a gente puxa, combinado? Um… Dois… Três…
Os puxões, que quase arrancaram os braços do casal, não resolveram. Uma senhorinha sugeriu:
— E se fizer cosquinhas neles?
Fizeram. Mas as reações comprimiram ainda mais o rapaz.
— Não tem jeito – Disse o motorista. Vocês vão ter que aguentar. Falta pouco para chegarmos.
Depois, avolumou a voz e pediu:
— Alguém pode, por favor, chamar os bombeiros e dizer que já estamos chegando?
Cinco minutos depois, o ônibus chegou à rodoviária. Os passageiros desceram e os bombeiros entraram em ação. O rapaz arroxeava. Com rapidez e cautela, arrancaram um dos bancos e resolveram a questão. Refeito do apuro, o rapaz chamou um táxi.
— Pode me levar nesse endereço, por favor?
O motorista leu o papelzinho.
— Rapaz, eu sou taxista há mais de vinte anos aqui na cidade. Vou lhe dizer uma coisa: essa rua não existe.
— Existe sim. Minha tia mora nesse endereço.
— Rapaz, não teime comigo. Aqui em Pinheiral não existe e nunca existiu esse endereço.
— Pinheiral? Aqui não é Queimados?