Página de História de hoje recorda dois fatos ocorridos na Pindamonhangaba de 1902, da época em que o final dos tempos das produtivas fazendas cafeeiras, dos ricos palacetes de barões e sinhazinhas, impunha às administrações municipais a convivência e adaptação às dificuldades econômicas de um caminho de parcos recursos…
Ladrões de residência
Esta saiu na edição da Tribuna de 6/7/1902 e trazia como título “Gatunos”. Referia-se à ação de bandidos que adentravam casas durante o silêncio da madrugada já naquela Pindamonhangaba deserta de movimento noturno, há 120 anos…
“Na noite de 3 do corrente os gatunos arrombaram a porta da casa do senhor José Palmeira, a rua Amador Bueno, de onde subtraíram 1 relógio e 2 correntes de ouro, 3 anéis com brilhantes, 1 anel com pedras finas, 2 pares de brincos de ouro, 1 guarda-chuva, 1 espelho, 1 chapéu e 3 cortes de vestidos e 2 broches de ouro”, descrevia o jornal.
Conforme a notícia, os gatunos haviam aproveitado a ausência de José Palmeira, e puderam “trabalhar à vontade”, carregando também “grande quantidade de roupas que foram abandonadas logo adiante, na rua Marechal Deodoro”.
Aconteceu da polícia, ao ter conhecimento do fato, promover diversas diligências com a finalidade de capturar os criminosos, conseguindo recolher à cadeia pública, como suspeitos, “dois conhecidos vagabundos”.
Conta o jornal que “No dia seguinte foi visto nas mãos de um turco, sapateiro, o guarda-chuva roubado, e o mesmo declarou à polícia tê-lo achado”.
Segundo teria concluído a autoridade policial, o valor dos objetos levados pelos ladrões fora superior a 1.200$000 réis.
Devorado pelos corvos
O outro caso de polícia é da edição de 24/8/1902. A nota foi aberta com a indagação que sugeria mistério, “Crime?” e complementada com o título seguinte: “Encontrado morto devorado pelos corvos”.
Segundo a Tribuna, o capitão Custódio Queiroz, então subdelegado de polícia em exercício, o cidadão Paulino Gomes de Araújo, administrador da fazenda do Dr. Tertuliano Gonzaga, havia comunicado sobre o encontro de um cadáver no mandiocal daquela referida propriedade rural.
Tratava-se do corpo de um homem de cor branca que se encontrava totalmente nu e em adiantado estado de putrefação. A autoridade policial tratou então de tomar as providências necessárias seguindo para o local indicado.
“De fato, lá chegando viu estendido sob as ramas o referido cadáver, cuja identidade não pode descobrir, pela deformidade em que se achava, pois, estava sendo devorado pelos corvos!”, conta o redator da Tribuna e complementa: “Depois do respectivo exame e mais formalidades o senhor capitão subdelegado mandou sepultar o cadáver no lugar onde fora encontrado por ser absolutamente impossível conduzi-lo a esta cidade”.
Concluindo, o articulista revela: “Foram feitas as indagações precisas afim de ser verificado o mistério que há neste fato; ninguém soube explicá-lo, ninguém pode reconhecer a identidade desse infeliz, vítima talvez de um crime! A autoridade aguarda o relatório dos peritos para dar as providências que semelhante caso exige.”