Não suportava mais as interferências da sogra. A velha vivia enfiada dentro da casa dele, palpitando sobre tudo. Abria a geladeira e avaliava qualidade, escassez e variedade dos produtos. Enfiava os dedos na terra dos vasos de plantas para medir o grau de irrigação. Deseducava as crianças, afrouxando as regras da boa conduta.
A velha, que morava num bairro vizinho, aparecia, propositalmente, no fim de tarde, para pernoitar. O genro não se continha:
— Se algum dia a sua mãe aparecer de mala e cuia, direi cobras e lagartos a ela. Ela que não se atreva! Ô velha rabugenta! Parece que não tem desconfiômetro!
A esposa se trancava no quarto e chorava. Ele amolecia, pedia desculpas; e dias se arrastavam sob a regência nociva da sogra.
Certa vez, um colega de trabalho aventou:
— Já pensou em pedir transferência para uma das nossas filiais e alugar a sua casa? Morando longe você terá sossego.
Ele gostou da ideia. Conversou com o chefe, mas não contou à esposa. Assim que a transferência foi autorizada, disse que a decisão da empresa era imperiosa, e que seria demitido caso a recusasse. A esposa não gostou; como compensação insinuou que a mãe fosse morar com eles. Ele se fez de desentendido.
No dia da mudança a sogra apareceu pretextando ajudar no que fosse preciso. Não ajudou. Apenas palpitou, resmungou e desapareceu antes de o caminhão pegar estrada. A esposa disse em prantos:
— Mamãe não gosta de despedidas. Tadinha. Deve estar arrasada.
Durante o trajeto ela não parou de soluçar.
— Pare com isso, mulher. Ninguém morreu. Em vez de choramingar devia estar feliz, pois a casa onde iremos morar tem piscina, jardim de margaridas e até um parquinho particular.
Ela engoliu o choro e não disse um “a”.
Horas depois, chegaram ao destino.
— Vou guardar minhas calças, camisas, cuecas e meias. Alguém sabe onde está a chave do guarda-roupa?
— Certamente no molho de chaves — resmungou a esposa.
— Não está.
— Então perdemos na mudança.
— Nem brinque com isso.
Procuraram e não acharam. Ele comunicou que chacoalharia o móvel, na esperança de que a porta se abrisse. Mas, antes do primeiro sacolejo, ouviram o barulho de chave. Trec! Trec! Trec! A porta rangeu, abriu e a sogra apareceu.
Dissimulada, indagou:
— Onde é o meu quarto?