Na Tribuna da Morte de 6 de outubro de 1972, um poema de Orlando Brite:
Era um menino triste, era um menino triste que sonhava e punha barquinhas na água da chuva. Era um menino pobre, era um menino pobre que sonhava sonhava com terras distantes por trás da montanha, e punha barquinhas cheias de sonhos na água da chuva….
Menino, sai da chuva!
E o menino corria para dentro de casa… Era um menino triste, era um menino triste e muito pobre, que punha barquinhos na água da chuva… No dia em que uma chuva muito forte enchesse a rua toda e fizesse da rua um grande rio, ele faria um barco do seu tamanho, e ia vogando na água da chuva, vogando e sonhando na água da chuva, em busca das terras por trás da montanha…
Menino, sai da chuva!
E o menino corria para dentro de casa… Era um menino triste, era um menino triste e tão fraquinho, que não deu trabalho à morte:
Rolou para o lado, babando – Dorme!
E o menino adormeceu, sonhando com seus barcos. Lá fora caía uma chuva muito forte, que encheu a rua toda, e fez da rua um grande rio. Foi quando o menino partiu, partiu no barquinho branco, coberto de flores, num barquinho branco do seu tamanho, coberto de flores, e foi para longe, levado na chuva…. Agora podiam gritar:
Menino, sai da chuva!
Que ele não correria mais para dentro de casa, não voltaria mais o menino triste, pois foi para longe no seu grande barco. Lá finalmente o menino triste, no seu grande barco, coberto de flores, em busca das terras por trás da montanha… Mas, lá longe, ouviu a voz de Deus:
Menino, sai da chuva!
E o menino correu para dentro do céu…