
No poema denominado “Já morreu…”, João Romeiro conta a história de uma mesa. Um móvel familiar que, segundo lembrava seu neto Dr. Mateus Marcondes Romeiro Neto (1919 – 1992), médico, professor doutor, pesquisador e escritor, “era guardado religiosamente, como evocação de pessoas queridas”. Nos versos, nos quais “sua sensibilidade e ternura podem ser avaliadas…” (Mateus Romeiro), o poeta João Romeiro descreve a trajetória da tal mesa a relacionando com as pessoas a ela envolvidas e que já haviam morrido, inclusive sua esposa Ana Francisca, identificada em sua poesia como santa criatura…
Tenho no quarto em que durmo e bem junto ao leito meu, uma mesa que está sempre a me dizer: já morreu…
Noite e dia, a toda hora nunca de mim se esqueceu, na sua triste mudez, só a dizer: já morreu…
O marceneiro que a fez, muito bem, lembro-me eu, um antigo conhecido, nosso amigo: já morreu…
Pela obra executada boa paga mereceu, quem lhe havia encomendado foi meu irmão: já morreu…
Queria para presente, e um primor lhe pareceu; mandou, sinal de lembrança à nossa mãe: já morreu…
A uma santa criatura finalmente pertenceu, as roupas das criancinhas cosia ali: já morreu…
Deixem ficar essa mesa lá, bem junto do leito meu, até que um dia, de mim, também diga: já morreu…
(O Dr. João Marcondes de Moura Romeiro morreu aos 73 anos, no dia 8 de julho de 1915, dezesseis anos depois da partida de sua esposa)