Antoine de Saint Exupéry, autor do “Pequeno Príncipe”, dizia que “há tipos de homens que nunca passam do cogumelos e outros que se fazem adultos quase ao nascer”. Isso porque se lhes aguçam os sentidos, a inteligência, e eles se colocam em destaque na caminhada da existência. Tudo isso me vem à memória quando contemplo o belo exemplo de Cidadão, Professor e Cientista Social: JOSÉ FLÁVIO SOMBRA SARAIVA, nascido na nossa amada Limoeiro do Norte, no Ceará, e que agora foi morar no Reino do Senhor.
Vítima de complicações advindas de um impiedoso Alzheimer, esse apaixonado pela Cultura, humanista elogiado, foi um dos fundadores do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e, agora, aos 64 anos de idade, deixa uma lacuna importante no cenário cultural brasileiro. Dedicado ao estudo da Educação, das Relações Internacionais, e, em especial, pela África, o Professor Flávio escreveu livros importantes e influenciou muitos que conduziu nas pesquisas e se dedicam à vida acadêmica.
Tudo aconteceu de maneira precoce no seu viver! Foi aluno no Colégio Diocesano Padre Anchieta de Limoeiro do Norte, graduou-se em Relações Internacionais na Universidade de Brasília (1981), fez Mestrado em História no El Colégio do México (1984), Doutorado na Universidade de Birmingham, na Inglaterra (1991) e completou estudos pós-doutorais em Relações Internacionais na Universidade de Oxford (1998, na Inglaterra). Foi Pesquisador do CNPq liderando um grupo de Pesquisas na área de História das Relações Internacionais Contemporâneas. Seus artigos científicos foram divulgados pelo nosso mundo. Ele foi Professor Visitante em Universidades na Europa, África, Ásia e América Latina.
Além de ser um exemplo de cientista, Mestre e Pesquisador, o estimado Professor Flávio tinha veneração e respeito pelo seu torrão natal, nosso inesquecível Limoeiro e seus conterrâneos. Dou um testemunho dessa excelsa qualidade desse ser humano que veio ao nosso planeta para ensinar e brilhar. Eu estava, no ano de 2005, em Brasília, participando de um simpósio sobre “Adolescentes e Adolescência de Risco”, no auditório da Universidade de Brasília, e, num debate em que denunciei os falsos números das taxas de mortalidade em jovens de 18 a 25 anos (na sua maioria negros, pobres, sem trabalho) por um representante do Ministério da Saúde, falando em baixos índices (quando sempre foram elevados!). Amparado por dados consistentes do Núcleo de Estudos de Violência contra os Adolescentes da Universidade de São Paulo ao qual eu era vinculado e do Centro de Estudos de Violência na América Latina, da Universidade de Berlim (sob o comando do Professor Günter Feuerbach, que conheci em Berlim e com quem mantinha amizade e estreito contato científico), provei o contrário, fato que desequilibrou emocionalmente o debatedor, o qual passou a me agredir verbalmente. Estava na plateia o querido Flávio, que pediu a palavra e exigiu respeito para com a minha pessoa, no seu dizer, “uma referência nacional em Pesquisas sobre Adolescência, professor sério, meu conterrâneo que eu conheço muito bem”. Fiquei muito emocionado e feliz ao presenciar aquela atitude do ilustre conterrâneo. Abraçamo-nos e fomos aplaudidos de pé!
Agora, tudo é saudade! Flávio pertence à Grande História da sua terra e do Brasil! Permanece a sua lembrança forte como ídolo e orientador dos seus amados irmãos Gilson, Raimundo e Gláucia, todos brilhantes e de destaque, os quais bendizem a convivência com o irmão querido. Esse “ser adulto quase ao nascer” parte levando as rubras rosas da nossa saudade e do nosso carinho e deixa um exemplo de Cidadão, Cientista e de ser iluminado.
Ave, Flávio!