A felicidade, ao longo da História, representa uma preocupação filosófica com o nosso processo existencial, sempre um motivo de reflexões. Para a neurociência, ela não se trata de pura euforia, mas de um estado de espírito no qual a pessoa sente-se leve, em paz e grato, com uma visão otimista da vida.
Para o sábio grego Aristóteles, em sua impressionante obra Ética a Nicômano, ela é a finalidade das ações humanas, deixando bem claro que é o maior bem desejado pelos homens. O que a constitui são as ações virtuosas, sendo um bem que tem um fim em si mesmo, e que a “Polis” (Cidade) é o local mais propício para a efetivação da referida felicidade. A maneira mais eficaz de praticá-la é por meio da consciência ética e da cidadania. Platão, outro filósofo grego, autor de A República, obra que atravessa os séculos, nos ensina que a felicidade é o resultado de uma vida dedicada a um conhecimento progressivo até se chegar à ideia do bem.
Por sua vez, Epicuro (considerado o “Profeta do Prazer”), filósofo do período helenístico, que defendia com muito ardor a liberdade humana e a tranquilidade de espírito, afirmava de maneira muito evidente que a felicidade/prazer significa a ausência de sofrimentos físicos e perturbações da alma. Na sua concepção, para se chegar à felicidade, seriam condições essenciais, portanto, não só a saúde do corpo como a eliminação das turbulências espirituais.
Como será que pensam os que se preocuparam com o psiquismo, como Freud e Jung? O psicanalista Sigmund Freud nos mostra em O Mal-Estar da Cultura que a felicidade sintetiza a repetição do sentimento de plenitude experimentado pela criança no início da vida, antes da separação definitiva da mãe. Ele afirma que “o que se chama felicidade no sentido mais estrito resulta da satisfação bastante súbita de necessidades fortemente postas em êxtase e, por sua natureza, é possível somente como um fenômeno episódico”. O conceito desse importante fenômeno humano que emerge da teoria freudiana é, ao mesmo tempo, obtenção do prazer e evitar o desprazer, o que conflita com o que foi passado para a humanidade ao longo do tempo, como sendo somente prazer, segundo afirmou o filósofo existencialista francês Merleau-Ponty. É importante não esquecer que o princípio do prazer é um dos que regulam o aparelho psíquico (consciente, pré-consciente e inconsciente), aparelho esse regulamentado por leis, regras e princípios.
Interessante é o ponto de vista do psiquiatra norte-americano Robert Cloninger (nascido em 1944, que se destacou por suas pesquisas sobre as bases genéticas, sociais, psicológicas e espirituais das doenças mentais), o qual considerou a felicidade como a expressão que traduz a compreensão coerente e lúcida do mundo. Em outras palavras: felicidade significa coerência no viver, procurar olhar para dentro de si mesmo, dar valor às essências e não às aparências. E, não foi por aí que caminhou o pensamento do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung ao dizer: “Para alcançarmos a felicidade precisamos ser capazes de olhar primeiro para dentro de nós mesmos”?
A História da Humanidade nos revela que somente despertamos quando nos conscientizamos e deixamos as sombras para trás, sentindo-nos livres para procurar alcançar o que nos faz feliz. Somos despertos (como dizia Buda) quando tentamos ser verdadeiros conosco mesmos e, sobretudo, fraternos como nos ensinou Cristo. E quem são os felizes? O evangelista Mateus (Mateus 5:3-12) nos assegura: “São os que reconhecem que precisam de Deus, os que têm fome e sede de justiça, os que são humildes e os que promovem a paz!”