A sogra tentava se vestir como jovem, mas o gosto duvidoso a ridicularizava. Era adepta de minitrajes, sem dar importância às pelancas, estrias e celulites. A boca vivia ruminando chicletes com delicadeza bovina. A murchidão dos lábios era disfarçada por batons encarnados. As rugas dos olhos eram segredadas pela extravagante coleção de óculos de sol. Quando alguém demorava o olhar sobre ela, ela dizia: “Morra de inveja!”.
Certa vez, convidou a nora para irem às compras no shopping Morumbi. Vestiu-se com minissaia rosa, blusa de oncinha, óculos de sol de armação lilás e bolsa amarela combinando com o tênis.
— Estou deslumbrante, não estou?
— A senhora está… Como posso dizer… Belíssima.
A nora bem que gostaria de falar a verdade, mas o carro que ganhara do marido estava condicionado a transportar a velha, sem objeções.
Durante o trajeto, a sogra contou que iria torrar dinheiro no shopping. A primeira loja a ser visitada foi a joalheria, onde a velha comprou um colar de ametista. Na saída, a nora foi abordada por uma amiga de infância.
— Rapunzel! Quanto tempo! Você não mudou nada. Continua maravilhosa! A mesma cútis, o mesmo corpinho de miss.
O apelido era herança da peça teatral na escola.
— Essa é a sua mãe?
A velha franziu o cenho e disparou:
— Por acaso eu pareço mãe dela? Não, né, queridinha. Lá no bairro, dizem que parecemos irmãs. Olhe bem pra mim – rodopiou – Quantos anos você acha que eu tenho?
A moça ficou encabulada. A velha insistiu:
— Pode dizer sem medo.
— Uns oiten… Não. Setenta e oito?
A sogra, bufando, agarrou a nora pelo braço e a arrastou.
— Sua amiguinha deveria procurar um oftalmologista pra deixar de ser grossa. Onde já se viu dizer que eu tenho setenta e oito.
— Sogrinha querida, você tem oitenta e seis.
— Fale baixo! Quer que o shopping todo ouça? Qualquer um que admirar o meu corpitcho e a minha pele de pêssego não me dará mais de trinta, trinta e dois. Só a sua amiguinha que, provavelmente, ficou com inveja da minha beleza. Ah, e quer saber? Cansei de shopping. Vamos ao “Outlet das Estrelas”. Vou mudar o meu estilo.
O outlet no Itaim Bibi vendia figurinos usados por atrizes. No estabelecimento, a sogra se apaixonou pelo modelo sobre o balcão.
— Adorei este aqui. O que você acha, Rapunzel?
O vestido, com estampas enormes de melancias, era horrível. Provavelmente usado por figurante em alguma película rural. Mas, apesar da cafonice, não era minúsculo como as peças que a sogra usava.
— É elegantíssimo, sogrinha. Um charme. Ficarei com inveja.
— Não fique. Vou usá-lo em uma ocasião muito especial.
No mês seguinte, aconteceu o aniversário da nora. Quase no fim da festa, a sogra apareceu trajando o vestido de melancias e com o colar de ametista. Nas mãos, um presente.
— Feliz aniversário, Rapunzel.
Ao desembrulhar o pacote, a nora arregalou os olhos.
— Sogrinha, esse vestido…
— Você gostou tanto do meu que voltei ao brechó e comprei outro igualzinho. Esse é pra você usar quando sair comigo.