
ocupa a cadeira nº 30
da APL – Academia
Pindamonhangabense
de Letra
Domingo. Hora do almoço. O marido estava irritado, sentado à mesa. A esposa havia preparado a macarronada que ele tanto gostava, a fim de dissolver o clima tenso.
— Cadê o pilantra do seu irmão? Se ele não me pagar os cinco mil nesta semana, vou quebrar a cara dele.
Ela sabia que o marido era cumpridor das ameaças que fazia. Por isso, inaugurou lágrimas e, com voz trêmula, implorou:
— Pelo amor de Deus, benzinho. Bate nele não. Ele tá tentando arrumar emprego, mas tá difícil.
— Arrumar emprego? Ele? Conta outra. Ele só sai de casa pra correr atrás de rabo de saia. Seu irmão não passa de um mulherengo vagabundo.
O sangue dela ferveu.
— Eu não admito que você fale assim do meu irmão.
Ele socou a mesa e se levantou.
— Falo e refalo. Vai querer tentar me calar? Isso tudo é culpa sua. Eu não devia ter cedido quando você me disse: “Benzinho, meu maninho tá precisando de um dinheirinho pra fazer uma cirurgia delicadinha. Empresta pra ele, por favor”. Eu acreditei. Até orei por ele. Dias depois fiquei sabendo que o vagabundo não tinha nada. A única operação que ele fez foi no meu bolso.
A discussão foi interrompida quando a campainha tocou. O marido foi atender. Era o devedor.
— E aí, cunhadão? Que cheirinho bom é esse? Não vai me convidar pra almoçar?
Com os punhos cerrados, a vontade era a de nocautear o imprestável. Entretanto…
— Tô brincando. Não vim almoçar. Vim pra pagar o que lhe devo. Aqui estão: cinco mil em dinheiro vivo. Pode contar.
Minutos depois, o cunhado estava à mesa, devorando macarronada, bebericando vinho tinto e contando anedotas sem efeito.
— Eu já contei aquela do avestruz?
— Mais de mil vezes.
— E a da galinha com soluço?
— A que botava ovo sem parar?
— Isso. Já?
— Contou tanto que até deve ter acabado o estoque de ovo.
Somente depois de repetir o prato, o cunhado foi embora.
— Viu como meu irmão é homem de palavra? Tá satisfeito agora?
Ele tirou a dinheirama do bolso e contou: cinco mil dinheiros. Em seguida, caminhou até o quarto, onde estava o cofre escondido atrás da Mona Lisa. Ele retirou o quadro, dessegredou a caixa-forte e berrou:
— MULHER! Cadê os outros cinco mil que estavam aqui?
Ela entrou no quarto, pegou algumas peças de roupa e disse que iria passar uns dias na casa da mãe, até ele se acalmar. Não era a primeira vez que ela agia assim.
Meia hora depois, ela telefonou:
— Benzinho, você me perdoa? Eu peguei o dinheiro pra evitar uma desgraça. Eu peguei o dinheiro e dei ao meu irmão pra ele pagar você.