A estrada de acesso era bordada por ipês, flamboyants, magnólias, e melodiada por rouxinóis, canarinhos e outras espécies canoras. A propriedade ficava de frente para o pôr do sol, espreitando a serra.
A casa era de tijolinho envernizado, com orquídeas e gaiolinhas penduradas no alpendre. Os pilares de madeira da varanda sustentavam redes para descanso. Na parede da sala, a viola, herança do avô repentista, convidava a brisa a dedilhar saudades. Na cozinha, sobre o fogão de lenha, jaziam bule, chaleira e panelas de barro, presentes da avó materna.
O terreno era atapetado com relva e margeado por margaridas. De um lado da casa havia uma piscina com cascata brotando de pedras; do outro, laranjeiras de várias espécies e uma jabuticabeira.
— A chácara não ficou linda, meu amor?
— Ficou maravilhosa! – disse a esposa estupefata.
— Vamos curtir o fim de semana em paz, eu, você e as crianças.
Ele a beijou e foi acender a churrasqueira. Ela entrou na piscina com as crianças. Minutos depois, o veículo importado parou buzinando na entrada da chácara. Ele deixou a churrasqueira e foi atender. Era o presidente da empresa onde ele trabalhava, com esposa e filhos.
— E aí, Mendes, tudo bem? Onde coloco as cervejas e a picanha? Sua chacrinha até que é bonitinha, mas muito inferior às minhas.
A mulher do Mendes saiu da piscina para acompanhá-los. Dentro da casa, a esposa do presidente observou:
— Achei as gaiolinhas um charme. Mas… não sei se vocês perceberam, elas estão com defeito: não têm portinholas.
Mendes explicou:
— Nós não prendemos passarinhos. Nossa intenção é que eles entrem nas gaiolinhas, comam e vão embora quando quiserem. E, se quiserem, também podem procriar e cantar para nós.
Mendes chamou a esposa em particular e perguntou se ela sabia o que o presidente prepotente estava fazendo ali.
— Eu o convidei. Quem sabe aqui ele perceba que você é o mais capacitado para preencher a vaga de gerente.
O marido torceu o nariz, pois, talvez, ela estivesse certa. Minutos depois, outros carros chegaram, trazendo a sogra, a cunhada e o cunhado do Mendes.
— O que deu em você? Convidou o mundo todo?
— Minha família é nossa família, benzinho.
— Minha não? Seu irmão não vale nada. Traz cerveja vagabunda e bebe a sofisticada. Traz carne de terceira e só come picanha.
— Sem estresse, por favor. Veja… foi bom tê-lo convidado. Já fez amizade com o seu presidente.
Quando o churrasco terminou, a piscina estava imunda, a casa fedorenta, as margaridas pisoteadas, as redes ensebadas e a viola desaparecida.
Na semana seguinte, assim que Mendes chegou à empresa, vendo que a sala da gerência estava ocupada, perguntou aos colegas:
— Alguém sabe quem é o novo gerente?
— Ah, o presidente disse que ele é seu cunhado, o Mendes.