Anastácia, Bernarda, Clotilde e Dolores se conheciam desde a infância. Estudaram juntas, cometeram travessuras juntas, começaram a namorar no mesmo verão, se casaram em maio de 1966 e enviuvaram recentemente. As amigas, que eram vizinhas, se reuniam às quintas-feiras para o “Chá das quatro”. Elas combinaram que o evento aconteceria cada semana na casa de uma delas, e que a anfitriã receberia mimos.
Na semana retrasada o evento aconteceu na residência de Anastácia – setenta e oito anos não desmentidos pela harmonização facial, silicone e lipoaspiração.
— Bernarda, me passe a geleia de damasco.
— Prontinho, Anastácia. Aproveitando, me dê uma fatia de melão.
— Quer mais um canapé, Clotilde?
— Daqui a pouco, Dolores. Assim que terminar meu chá de camomila.
Comiam, bebiam, tagarelavam sobre o passado e riam. Bernarda fez um aparte:
— Vamos entregar os mimos?
Dolores presenteou Anastácia com o livro “Cinquenta tons de cinza”. Bernarda ofereceu um pôster de Marlon Brando. Clotilde pegou a caixa de sapato que trouxera e disse:
— Como todas sabemos, Anastácia está querendo encontrar um príncipe encantado. É a única louca da turma.
Todas riram. Ela continuou:
— Ontem, um homem com trajes de cigano me abordou na rua. Era mais velho do que nós quatro juntas. Deu-me esta caixa dizendo que era presente para a minha amiga cansada da viuvez. Disse que se eu a abrisse, minha amiga morreria. Vocês sabem como eu tenho medo dessas coisas. Querem saber mais? Ele desapareceu na minha frente.
Rindo muito, as amigas circundaram o indicador na altura da orelha, sugerindo que Clotilde estava birutinha. Assim que Anastácia se conteve, pegou a caixa, colocou-a sobre a mesa e abriu. Havia outra caixa. Na tampa da caixa aberta estava escrito: “Dê um beijo e tenha um príncipe”. Suspeitando tratar-se de uma troça, ignorou o texto, abriu a segunda caixa e gritou:
— Um sapo!? Meu Deus! Um sapo!!!
O bicho, assustado com o susto, pulou da caixa, se esparramou no chão e, aos pulos se embrenhou no jardim de inverno. A reunião terminou ali.
Na sexta-feira passada, notaram um homem espadaúdo, cinquentão, cabelos grisalhos, charmoso, debruçado na janela da casa de Anastácia.
— Será que ela beijou o sapo? – Conjecturou Dolores.
— Sabe quando sapo se transforma em príncipe? Só em contos de fada – concluiu Clotilde.
— Será? – Duvidou Bernarda.
Hoje é quinta-feira. O chá desta semana não acontecerá entre as amigas. Bernarda, Lúcia e Clotilde estão com infecção labial causada por batráquios. Mas, para não perder o costume, Anastácia preparou a mesa com fartura e irá tomar chá com o sobrinho que está passando uns dias com ela.