A inteligência artificial (IA) tem criado novas formas de interagirmos com o mundo (real e digital) e todas essas mudanças podem transformar radicalmente a forma como usamos o dispositivo que se tornou básico na nossa vida: o celular. Não há dúvidas que os aplicativos (apps), os quais usamos no nosso smartphone e em tablets, deram origem a uma nova geração de startups e soluções que moldam nossas vidas digitais. Hoje, praticamente, encontramos aplicativos para tudo: mobilidade urbana, alimentação, finanças, saúde, localização, entretenimento, compras etc.
Mas será que a IA pode mudar esse cenário e tornar os aplicativos obsoletos?
Quando Steve Jobs (Apple) lançou o iPhone em junho de 2007, foi um verdadeiro frenesi e, pela primeira vez, o mundo vislumbrou uma real possibilidade de ubiquidade. O novo dispositivo móvel veio substituir os antigos celulares que tinham uma limitação de uso, basicamente telefonar e enviar SMS. Um ano depois, foi lançada a App Store. Desde então, uma revolução nos aplicativos móveis criou indústrias inteiras de 2008 até hoje, transformando os smartphones em itens essenciais. O desenvolvimento de aplicativos se tornou um business para muitos jovens, e Apple e Google lucraram bastante neste quesito.
Mas essa realidade de um único dispositivo fazer transferências bancárias, alugar uma casa, pedir um motorista, fazer compras no supermercado e conhecer um novo amor pode estar prestes a mudar, e todas essas interfaces visuais podem desaparecer.
Assistentes Virtuais
Hoje, o grande esforço entre as principais empresas que estão desenvolvendo grandes modelos de linguagem, os chamados LLMs, tem como grande objetivo automatizar o maior número de tarefas, não apenas as criativas. A ideia principal é o desenvolvimento de agentes autônomos ou assistentes virtuais turbinados que são capazes de executar todo tipo de tarefa que pode ser virtualizada a partir de um comando nosso, ou um prompt.
Podemos dizer que já existem assistentes virtuais que fazem coisas por nós, como a Siri e a Alexa, mas as tarefas às quais estamos nos referindo são bem mais complexas. Vamos imaginar que você acompanhou as Olimpíadas 2024 pela TV e sonha assistir à próxima edição ao vivo e a cores em Los Angeles, daqui quatro anos. Hoje, apesar de você conseguir pedir para alguns aplicativos indicações de passagens baratas, hotéis, restaurantes e roteiros, você ainda terá que fazer uma parte bem chata, que é comprar e agendar tudo.
Mas, com um agente de IA, você pode simplesmente solicitar que ele faça tudo, ou seja, a compra do voo mais barato, já que ele tem todas as suas informações, inclusive de pagamento; reservar os hotéis e restaurantes; comprar ingressos; organizar passeios turísticos e comprar a camiseta oficial das Olimpíadas, que deve ser entregue no dia que você chegar em Los Angeles, no endereço do hotel. E tudo isso porque você simplesmente falou o que queria e não precisou tocar na tela em nenhum momento.
O fim dos aplicativos
Claro que existem muitos especialistas que não corroboram com essa ideia, pois acreditam que os aplicativos mais utilizados são para entretenimento, ou seja, redes sociais. Mas será que, diante de tantas redes que utilizamos no dia a dia, não seria interessante um agregador? Por exemplo, vamos nos focar em vídeos curtos, com o TikTok, Instagram Reels, Shorts do YouTube e o Spotlight do Snapchat. Todos eles usam vídeos na vertical, têm layout semelhante e utilizam um algoritmo que maximiza a retenção do usuário. Um agente de IA poderia agregar o melhor conteúdo de todos os apps e nos entregar da forma como desejamos.
Real-time web e novos dispositivos
Isso tem sido chamado de “real-time web”, em que o nosso uso online será sem barreiras. A internet não será mais sobre sites e aplicativos, mas sim, sobre o que queremos. Os sites, em breve, além de tridimensionais, terão conteúdo dinâmico, e cada indivíduo terá homepages completamente diferentes da mesma URL. Mais do que uma organização de conteúdos, os próprios conteúdos poderão ser gerados especificamente para cada usuário, e tudo em tempo real, claro! É quase como se o que acessamos não existisse antes de nós olharmos para ele.
Por isso, muitos especialistas têm chamado essa internet reconfigurada por IA de internet quântica, que tem outras várias características. Esse aproveitamento do virtual ao físico nos permitirá trazer objetos virtuais para o mundo físico, não só como acontece com a realidade aumentada (RA), mas também se tornando físicos, assim como o ambiente físico vai se tornar imersivo em tempo real. Isso criará conceitos léxicos, um novo vocabulário, que será multimodal, ou seja, usando gestos, contato visual, voz e também superfícies de controle e interfaces táteis.
Romper a barreira entre os aplicativos, ou até mesmo extingui-los, pode trazer uma reconfiguração da interação, muito diferente da que estamos acostumados. Como sempre, nos resta saber até que ponto queremos que as IAs controlem tudo, podendo, inclusive, emular realidades. O que parecia ficção científica até pouco tempo, logo mais será comum.