Das gambiarras de cristais em alas
a luz em frouxas filigranas desce…
Um vozear febril de risos cresce
sonambuleando pelas largas salas
Por entre a viva confusão das galas,
um coro trefego de harpejos tece…
O riso aumenta e o vozear recresce
em desinquieto estertolar de falas…
E o luxo, o rei da festa, o rei da vida
que brilha, que explende, e que fulge ali
entre veludo e sedas e joias ri…
Enquanto que sem luz, sem lar, banida
e solitária a tropeçar lá fora
no pó das ruas, a miséria chora!
Clotilde de Mattos,
Tribuna do Norte, 19/3/1911