
Da edição da Tribuna do Norte de 2/7/1905, relembraremos uma festa de São João realizada há 119 anos na fazenda na qual o proprietário (ali residiu até os últimos dias de sua vida) era o fundador deste jornal. O político, jurisconsulto, jornalista, escritor e poeta Dr. João Marcondes de Moura Romeiro. A matéria, com o título “O São João no Mombaça”, trouxe os seguintes comentários referentes ao evento:
“Mais uma vez vestiu-se de galas a nossa Mombaça, para receber os amigos e convidados que foram ali passar a noite de S. João. A fazenda ficou apinhada de gente; lá fora, junto da grande fogueira que se erguia no centro do terreiro, os filhos da raça africana dançavam umas danças que eles entendem, acompanhadas de rude instrumento e de um cantar monótono e triste que lembra a situação em que viveram por tanto tempo em nosso país”.
Violeiros e sanfoneiros
Segundo a Tribuna, além do evento junto à fogueira: “Ao lado, e em uns compartimentos separados da casa de morada, ainda duas reuniões; uma, dos nossos campônios, que dançavam ao som da viola que gemia; outra, dos que bailavam ao som da sanfona ou gaita de fole. Lá dentro da casa de morada…” É aí que divagamos poeticamente a imaginar sobre essas opções para bailar: uma proporcionada pelos violeiros e suas cantigas ao som dolente das violas; outra, pelos sanfoneiros e gaiteiros ao som que nos convida para a festa que é o cantar das sanfonas…
Gente reunida
A presença de conceituados convidados naquela festa de São João (a família Marcondes Romeiro sempre foi bem relacionada e querida, independentemente da classe ou posição social) até mereceu comentário em poesia, expresso nesta quadra:
“Tanta gente assim reunida não é fácil de se ver. Jardim coberto de flores difíceis de se escolher.”
O líder político
O jornal Tribuna do Norte na época era identificado como Folha Republicana. Os seus representantes, aqueles que tinham ido fazer a cobertura do evento, defendiam o Partido Republicano Municipal e tinham o Dr. Francisco Romeiro, irmão do Dr. João Romeiro, como líder político. O médico Dr. Francisquinho, como era popularmente conhecido, havia se deslocado do Rio de Janeiro, onde estava morando, para prestigiar a festa anualmente realizada pelo irmão. Contam os da Tribuna que ao procurá-lo na festa:
“Encontramo-lo em um círculo formado por suas cunhadas exmas. Baronesa de Romeiro, dona Amélia Salles Romeiro, dona Mariana Salgado Romeiro, seus irmãos Dr. Matheus Romeiro, Dr. João Romeiro, coronel Romeirinho, seus sobrinhos major Ignacio Bicudo de Siqueira Salgado, João Romeiro (filho), Manoel Ignacio Romeiro, Francisco Romeiro (sobrinho), e outros muitos parentes e amigos. Nunca o vimos tão alegre e satisfeito”.
Gente amiga
Segundo o jornal o que havia impressionado na festa de São João no Mombaça fora a imensa multidão que para lá tinha ido “…só e unicamente por simpatia às pessoas da casa”, ou seja, “as principais pessoas da localidade lá estiveram, e sem outro intuito a não ser obsequiar os que promoveram a festa.”
E destacava: “…assim falo porque não compreendo que um indivíduo, e muito principalmente uma família, seja capaz de expor-se a uma viagem incômoda e maçante, só com o fim de gozar de uma festa de roça, cujo encanto está na companhia das pessoas com quem ali passa se o tempo”.
O dono da festa
Isso não se discutia, era o velho, respeitado e conceituadíssimo Dr. João Romeiro, no entanto, o articulista do jornal Tribuna do Norte revelava-se desconhecedor do idealizador do grandioso evento festivo, e arriscava:
“Dizem-me uns que o senhor João Romeiro Filho, querendo obsequiar sua prezada tia, exma. Dona Amélia Salles Romeiro, viúva do saudoso Dr. Ignacio Romeiro, a qual dignou-se vir de São Paulo passar com sua família uma temporada na fazenda, tratou este ano de solenizar ali com mais aparato a festa de S. João. Outros, porém, querem me asseverar que houve mais alguém que tivesse tomado parte direta em tanta coisa que vimos naquela noite, e que revelava muito trabalho e muito gosto”.
Louvor a São João
O início da parte religiosa da festa se deu às 9 horas, com a chegada da Corporação Musical Euterpe marcou o início das atividades religiosas, acompanhando os cânticos em frente a um altar ornamentado com a imagem de São João. O responsável pela direção dessa parte do evento foi o Dr. João Romeiro, dono da casa.
Após as atividades religiosas, houve um breve intervalo antes do tão esperado baile. O redator da Tribuna descreveu o baile como animadíssimo, prolongando-se até o amanhecer. O evento foi repleto de dança, causando espanto pela energia e entusiasmo dos participantes.
Por volta das 23 horas, foi oferecido um lanche aos convidados, proporcionando um momento de pausa antes da próxima atividade. Em seguida, ocorreu uma parte dedicada à cultura e à poesia, com a apresentação de canções e poemas por diversos senhores, conforme relatado pela Tribuna.
Após a interação cultural, o baile recomeçou com ainda mais animação, estendendo-se até as duas da madrugada, quando foi servida a ceia. Mesmo após a ceia, a festa continuou, sendo destacada a oferta de chocolate às 5 horas da manhã, embora muitos convidados já tivessem se retirado ou adormecido.
A festa de São João na fazenda Mombaça durou até o raiar de um novo dia, proporcionando uma celebração prolongada e memorável.
Ao aproximar-se o momento da partida, o redator da Tribuna expressou sua tristeza, ressaltando sua afinidade com festas, especialmente aquelas com danças. Ele procurou seu amigo João Romeiro Filho para expressar sua gratidão pelo acolhimento e perguntar sobre futuras festas semelhantes. Infelizmente, não conseguiu encontrá-lo, presumindo que estivesse descansando, o que considerou uma atitude louvável.