
Era um sobrado que havia na rua Prudente de Morais, onde a população ia buscar fogo para iluminar seus lares no tempo em que essa via pública era denominada rua Alegre. Outro dos inúmeros prédios históricos situados na zona urbana de Pindamonhangaba na primeira metade do século XX, que precisaram vir abaixo por conta do progresso, era conhecido como a “Casa do Fogo”.
Possuía indiscutível valor histórico, pitoresco e folclórico. Ficava na rua Alegre, depois denominada rua Conde D’Eu e, atualmente, rua Prudente de Morais. Era um sobrado que guardava uma parte da história da Pindamonhangaba ainda sem energia elétrica. Da Princesa do Norte dos lampiões, lamparinas e velas.
Acendendo lares
Essa histórica edificação recebera a denominação “Casa do Fogo” porque mantinha, em sua parte térrea, uma fornalha acesa dia e noite. Inicialmente fornecia brasas para os turíbulos (vasos onde se queimam incensos) da Igreja Matriz. Mas o costume de buscar brasas na “Casa do Fogo” também se propagou entre o povo.
Como naquele tempo ainda não havia a caixa de fósforos, era comum ao amanhecer e ao anoitecer as pessoas irem nesse local buscar brasas para acender os fogões e iluminar as casas de seus senhores.
Contam que, no triste tempo da escravidão, os encarregados dessa missão iam jogando a brasa de uma mão para outra para não se queimarem. A preocupação dos poderes públicos era manter aceso o braseiro dia e noite. Serviço feito pelos escravos, que se revezavam na missão de abanar a fornalha.
Prédio histórico
Essa construção pertenceu aos Lemes, descendentes dos Lemes que, segundo o escritor historiador Athayde Marcondes, teriam sido os fundadores de Pindamonhangaba (o historiador Waldomiro Benedito de Abreu, depois de anos de pesquisa e apresentação de documentos comprobatórios de que a cidade não fora fundada, conseguiu a revogação da lei que oficializava o 12 de agosto como data de fundação, passando a ser considerado aniversário do município o 10 de julho, data de sua emancipação política).
A importância histórica desse prédio, no entanto, vai além. Conforme Athayde Marcondes em “Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos”, Câmara Municipal e cadeia funcionaram nesse local até o ano de 1861. Em 1862 foi leiloado pela Câmara, na época presidida por Francisco Ignácio Homem de Mello (Barão), sendo arrematado por Domiciano Correa Leite. Com o dinheiro da venda a Câmara construiu suas novas acomodações na praça Barão do Rio Branco (largo São José), o Palacete Tiradentes.
Baseando-se em datas, em 1822, a Câmara funcionava nesse sobrado, portanto, foi em uma de suas janelas que, no dia 21 de agosto de 1822, o imperador Pedro I, de passagem pela cidade rumo a São Paulo (viagem que resultou na proclamação da Independência), falou aos pindamonhangabenses.
O prédio foi demolido no início dos anos 1960 por conta da construção da Praça Desembargador Eduardo Campos Maia, a Praça do Fórum. Sobrado que, além de ter abrigado a Câmara e a cadeia, ficou conhecido como a “Casa do Fogo”, pois ali se mantinha uma fornalha dia e noite para fornecer brasas à população (não existia ainda a caixa de fósforos).