Já sabemos que o desejo é imprescindível para o processo de ensino e aprendizagem acontecer com êxito: impulsionados pela necessidade ou por uma inspiração motivadora, aprendemos, de fato, quando queremos adquirir determinado conhecimento. Não há como negar: o querer abre portas e inaugura horizontes, preenchendo lacunas de nosso viver cotidiano.
Todavia, despertar nos alunos o desejo de aprender constitui uma missão árdua, desafio diário de qualquer instituição de ensino, lição que todo educador busca continuamente assimilar, adaptando-a e adaptando-se às exigências e demandas de seu tempo. É que não são poucos os problemas capazes de comprometer o sucesso pedagógico, assim como existem muitos fatores – boa notícia! – favoráveis para o alcance de metas educacionais.
Pois bem, destacaremos nesta conversa dois elementos que impulsionam o querer e estimulam o aprendizado efetivo: o claro anúncio da aplicabilidade do saber e a irresistível paixão do professor pelo conhecimento.
Com efeito, é de suma importância evidenciar para o aluno o campo de aplicação dos conceitos estudados. Essa medida pode ser considerada uma estratégia pedagógica, mas, antes disso, revela, na prática, apreço pelo conhecimento e profundo respeito pelo aprendente – que, naturalmente, sempre vai querer saber a “utilidade” do que lhe está sendo ensinado.
Ainda que muitos saberes tenham íntima relação com a fruição, da qual surgem os mais variados frutos (muitos dos quais incomensuráveis), todo trabalho educacional deve ser pautado na clareza de propósitos, o que inclui um olhar racional sobre os conteúdos abordados em sala de aula, explicitando com nitidez a relevância das lições oferecidas.
Ora, uma aula em que conceitos, atividades e objetivos são apresentados de modo crítico e translúcido inspira confiança – sentimento que não pode faltar na relação entre professor e aluno, como salienta o professor e escritor Severino Antônio: para o autor, a confiança precisa estar presente “cotidianamente” no ambiente educacional para que haja “correspondência, convergência e ressonância”, isto é, a confluência de expectativas e atitudes docentes e discentes que culmina na eficácia da ação educadora.
Por falar em culminância, outro elemento indispensável para o sucesso da aventura de aprender é a paixão que o professor deve nutrir, espontaneamente, pelo saber. “Porque sem uma grande paixão não existe conhecimento”, preconizava o apaixonado educador Rubem Alves. Estamos falando de amar o saber, de lhe conhecer o sabor e, com isso, partilhar o que se sabe como quem serve uma iguaria realmente saborosa e… irresistível.
Parece poético ou teórico demais? Não é. Precisamos amar o que fazemos para que nossas ações inspirem nossos alunos a “seguirem nossos passos”, o que, neste caso, significa: que eles consigam aprender o conteúdo das aulas. Para nossa alegria, multiplicam-se os exemplos de professores que encantam gerações devido ao amor incondicional devotado por eles aos saberes ligados à sua atuação docente.
Lição do dia: para que o aprendizado aconteça, é preciso evidenciar o valor aplicável do saber ao dia a dia de quem aprende, e todo agir pedagógico deve ser imbuído de paixão pelo conhecimento.
Para encerrar, uma reflexão recém-nascida (gerada agorinha, no ato desta escrita): não é lindo que a palavra designada para a ação dos educadores seja docência? O vocábulo tem sua origem no verbo latino docere, que significa ensinar – simples assim. Mas, numa fruição bem mais poética do que etimológica, a palavra docente une o adjetivo doce ao verbo sentir. Não é maravilhoso?
Doçura e sentimento: já temos assunto para nossa próxima conversa!