No mundo atual em que vivemos, cresce assustadoramente a violência, seja do Estado, das Instituições e dos Cidadãos. Nesse cenário, nunca se tornou tão necessária a abordagem e prática da virtude da tolerância (termo originário do latim tolerare, o qual significa suportar, ser complacente).
Nesse momento difícil da História, é imperioso reconhecer os inalienáveis direitos humanos universais, ao se respeitar e aceitar a diversidade de cultura, de pensamentos, conferindo um reconhecimento franco da alteridade. Tais atitudes são essenciais para a construção e manutenção do Estado de Direito e de Paz.
Jamais podemos confundir a tolerância com a tóxica passividade da indiferença. É importante colocar até onde ela se estende, ao refletirmos sobre o “Paradoxo da Tolerância” descrito pelo filósofo austríaco Karl Popper (1902–1994), em seu livro The Open Society and its Enemies, no qual explica que a tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da própria tolerância.
Surge aqui uma indagação: como exercer a prática da tolerância? Certamente, ao ouvir opiniões diferentes das nossas e respeitá-las; aceitar que as pessoas têm liberdade de crença religiosa e respeitar a diversidade sexual e de gênero, sem discriminação. Ser tolerante é ser empático com as dificuldades dos nossos semelhantes, compreendê-las e auxiliar esses seres humanos nos momentos difíceis.
A filosofia se debruça sobre esse tema. Voltaire (1694–1778) dizia que a tolerância “é uma característica intrínseca de qualquer sociedade que deseja justiça e paz”. Defendeu com vigor a liberdade de expressão, a tolerância religiosa, o progresso científico e a razão, e o direito das pessoas pensarem por si mesmas sem as amarras de dogmas. É atribuída a ele a célebre frase: “Não concordo com o que dizes, mas defendo até a morte o direito de o dizeres”.
Outro pensador que defendeu a tolerância foi o inglês John Locke (1632–1704), considerado o “Pai do Liberalismo”, autor da obra Carta sobre Tolerância, ainda hoje atual.
Essa virtude, que representa harmonia nas diferenças, é também um dever ético, necessidade política e social, como bem demonstrava Dom Helder Câmara (1909–1999), o Bispo dos Pobres, defensor da não-violência em tempos de ditadura militar no Brasil. Para ele, bondade e amor caminhavam de mãos dadas com a tolerância, originando fraternidade e solidariedade.
Assim, ao equilibrar tolerância e verdade, sem compactuar com a maldade, a hipocrisia e a violência, e guiados pela elevação moral, seremos capazes de construir um mundo melhor. Essa virtude nobre é, acima de tudo, irmã-gêmea da esperança.
				








