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Jornal Tribuna do Norte

Terças-feiras de cerâmica

Estou fazendo aula de cerâmica. Em uma dessas noites, regada à ansiedade do tocar dos dedos na infinidade que é a tela do celular, um anúncio de aula de cerâmica me despertou interesse. O algoritmo, após buscas incessantes por atividades que fugissem das telas, acertou.

A estratégia de tráfego pago do criador deu certo, e eu logo enviei uma mensagem. Achei curioso e até mesmo cômico: usei do meio para fugir do meio. Talvez seja recorrente em mentes mergulhadas por informação.

Reservei o meu horário e, mesmo sem nenhuma experiência, me aventurei. E, desde esse episódio de impulsividade, todas as terças-feiras, por um período de três horas, tenho me arriscado na beleza que é transformar barro em peças bonitas e brilhantes, ou, às vezes, nem tanto, com bordinhas deformadas, rachaduras e erros na esmaltação. Foi justamente com essas peças erradas, para um olhar perfeccionista, que descobri a graça de aprender com a cerâmica sobre frustração.

Para quem, assim como eu, não conhecia o processo, na cerâmica há algumas etapas: primeiro, você aprende a técnica da cobrinha. Você constrói cobrinhas com os dedos e, ao empilhar uma a uma, um copo ou até mesmo uma caneca são criados. Nesse formato, há vários degraus irregulares, a peça fica um pouco torta pela falta de experiência com o manuseio, e uma aula é quase insuficiente para terminá-la.

Depois, a técnica da placa: você abre com um rolo de cozinha mesmo, corta do tamanho desejado, e a mente vai longe com a possibilidade de peças. Feito isso, a sua arte seca por cerca de uma semana e já está pronta para a primeira queima, que se chama “biscoito”. Um forno específico é necessário e a temperatura é altíssima.

Nessa primeira etapa, as intercorrências começam a acontecer e é sempre uma surpresa o resultado da peça. Por último, você a pinta com um esmalte da sua preferência e só descobre sua real cor após a última queima. É um exercício de paciência. A minha primeira caneca, a exemplo, rachou no fundo, e pensei em transformá-la em um vasinho ou porta-trecos. Vi a necessidade de ressignificar os sentidos.

Isso pode até parecer um manual, eu sei, mas, na verdade, fala sobre a vida muito mais do que sobre barro. Atravessa o peito, desconstrói a necessidade da perfeição e mostra que, tal como a imprevisibilidade da cerâmica em cada peça construída, seja com a mudança do ar ou a temperatura do forno, a vida também tem seus fatores externos e nuances que a tornam única.

Enxergar a beleza desse processo, em tempos em que a sociedade tem gana por satisfação constante, regada de imediatismo e consumo, é uma forma de resistir e de encontrar felicidade nas incertezas.

Espaço AJOP

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