
Neste mês, quando o calendário nos lembra da Consciência Negra, o que sentimos vai além da celebração protocolar. Sentimos um orgulho profundo e uma dor antiga, forjados na luta de gerações que jamais desistiram de sonhar. Olhamos para a história de nosso povo e sabemos que o nosso lugar foi conquistado a duras penas, com um custo emocional e social que o Brasil ainda insiste em ignorar. Sim, temos um imenso e inegociável orgulho de sermos negros, orgulho da minha raça e de cada etapa da minha carreira.
Reconhecemos o valor de quem alcança o topo, mas para nós, que partimos de um ponto de desvantagem histórica, cada degrau subido é um ato de rebeldia. Minha trajetória na direção desta escola é a prova disso: estou aqui por mérito incontestável. É preciso que a sociedade saiba que tive acesso às oportunidades de cotas, mas optei pela concorrência direta. Utilizei essa escolha como um marco político para provar, de forma irrefutável, que a capacidade do negro é plena e não precisa de atalhos. Minha presença neste cargo não é um favor concedido; é o resultado do meu trabalho e da minha competência.
É com essa mesma convicção que manifesto o orgulho pelo nosso corpo docente. A escola é um lugar de talentos, e muitos de nossos professores são pessoas negras, notáveis em sua excelência e dedicados a transformar o futuro. No entanto, a competência, por si só, não serve de escudo. É doloroso saber que muitos desses profissionais já foram e continuam sendo vítimas do preconceito. Suas vitórias pessoais são celebradas, mas suas feridas, muitas vezes, são silenciadas.
Neste sentido, a sala de aula ainda precisa trabalhar este tema de forma mais abrangente, indo além do meramente folclórico. É o que lutamos para realizar: neste mês, não ficamos apenas à margem de uma data. Nossa escola exibiu filmes, forneceu livros e explicações que contam a verdadeira história e a luta do povo negro, tratando a data com o rigor histórico e a seriedade política que ela exige. Temos o dever de educar sobre a luta, e não apenas sobre o adereço cultural.
É urgente que entendamos o verdadeiro significado deste 20 de novembro. Este dia não é de festa, é de luta. Não é um feriado para ser reduzido ao folclore, mas sim uma busca incessante e inegociável por igualdade e respeito. Quando a sociedade tenta nos resumir ao samba e à capoeira, ela está tentando nos calar, diminuir nossa complexidade. Não somos bons apenas nesses atrativos; somos excelentes em tudo que nos propusermos a realizar. Somos gestores, cientistas, professores, inovadores e, acima de tudo, líderes por mérito e inteligência.
Propomos, assim, uma reflexão crucial e política que apela à consciência de todos: Por que a presença de pessoas negras desaparece nos altos cargos de gestão, poder e decisão no Brasil? O preconceito se veste de discrição, operando no “teto de vidro” que só existe para nós. Somos forçados a provar nossa capacidade incessantemente, enquanto nossa voz, quando política e séria, é desqualificada como um mero “desabafo emocional”.
Para os nossos alunos, não apenas os negros, que olham para esta direção e para os nossos professores como um espelho de sua própria capacidade, o recado é de coração aberto: Não desistam. Olhem para o nosso exemplo de carreira e para o nosso mérito, e sigam em frente. Que a excelência de vocês não seja uma exceção, mas a nova regra. A luta é árdua, mas a vitória de vocês é a nossa maior missão e a verdadeira prova de que a igualdade é possível.
O nosso orgulho e a nossa presença em espaços de poder são a prova de que a luta continua e de que o mérito é, inquestionavelmente, nosso. Que a Consciência Negra nos desperte. O Brasil só poderá se considerar verdadeiramente justo e pleno quando a igualdade de oportunidades e de respeito for, enfim, uma realidade concreta para todos nós.
“Não aceito mais as coisas que não posso mudar. Estou mudando as coisas que não posso aceitar.” (Ângela Davis, 2017).
Esta é a nossa luta, este é o nosso grito. E não seremos silenciados.









