
No departamento todos sabiam que o maior desejo de Libório era arrumar uma namorada. O quarentão, mais magro do que bambu, tinha cabelos espetados, crateras no rosto e um bigodinho à la Clark Gable. Era o verdadeiro “feio que dói”.
Três colegas de trabalho resolveram dar um jeito naquela situação. Depois do expediente, reuniram-se num barzinho e elaboraram o plano. No dia seguinte, a mulher do cafezinho, convencida pelo cachê que lhe garantiria a feira, entrou no departamento fantasiada de cigana, trazendo uma caixa. Disfarçou a voz.
— Quem é o senhor Libório? – Ele levantou o indicador sem tirar os olhos do papel que analisava. Sem dizer nada, ela colocou a caixa na mesa dele e foi embora.
Os colegas se aproximaram.
— O que tem na caixa, Libório?
— Sei lá! Ainda não abri.
— O que está esperando? Abriu.
Continha uma tartaruga e um bilhete.
“A tartaruga fará você encontrar o seu verdadeiro amor. Carregue-a em todos os lugares. Sua alma gêmea vai se aproximar por causa dela.”
— Bobagem – Disse um dos colegas, disfarçando.
— E se for verdade? – Ponderou Libório – O universo pode, finalmente, ter ouvido o meu pedido.
A partir daquele dia, passou a carregar a tartaruga de um lado pro outro. Se ia à cozinha ou ao banheiro, levava o quelônio. No trabalho, o réptil reinava sobre a mesa. Os colegas se divertiam.
Dias depois, um dos colegas esperou Libório entrar no banheiro para mostrar o vídeo que havia feito com o celular.
— É o Libório andando com a mão na cintura de uma… Loiraça!?
Chamaram a mulher do cafezinho.
— Onde conseguiu a tartaruga milagrosa?
— Milagrosa? Como assim?
— Veja o nosso coleguinha agarrado na loira.
Libório voltou sem dar tempo para a resposta.
— Quanto quer pela tartaruga?
— Quanto quero? Quem disse que quero vendê-la?
— Pago quanto você quiser.
— Pago o dobro – gritou o segundo.
— O triplo – berrou o terceiro.
O leilão acabou convencendo Libório.
No fim do expediente, o arrematante foi embora fuzilado pelos olhares invejosos. Libório desceu pelo elevador na companhia da mulher do cafezinho. Ela não se conteve: contou tudo a ele.
— A loira? Ah, a loira é minha prima.
Ela sorriu e disse encabulando-se:
— Se quiser, fico loirinha pra você.
Riram.
— A senhora aceita jantar comigo?
Ela nem pensou.
— Na sua casa ou na minha?