Crônica premiada com o 2º lugar no V Concurso Literário “Maria Mariá”, realizado pela Academia de
Letras de Maringá – Paraná, tema Mulher Invisível!
Durante a minha vida, sempre desejei possuir alguma força incomum, física ou mental. Nos meus tempos de criança, sonhava em ser super-heroína e me inventava mulher-maravilha para combater inimigos imaginários. Minhas bonecas, coitadas, sofreram muito.
Quando comecei a estudar, eu, que era (e ainda sou) de poucas palavras e reações grosseiras, fui submetida a inúmeras formas de opressão pelos colegas. Naquele tempo, eu quis a força de mil rinocerontes.
Cresci modelada pela cartilha da rígida educação religiosa. Dentre os preceitos, mamãe me ensinou a não fazer julgamentos precoces, tampouco ter o coração compatível com a maldade. Talvez, por isso, exerci a empatia, servindo gentilezas a familiares, conhecidos e anônimos. Meu maior erro foi ter me descuidado de mim. Ah, se eu tivesse o poder de voltar no tempo!
Casei-me. Tive quatro filhos: dois casais. Em razão do trabalho diuturno de meu marido, coube somente a mim a educação das crianças. Criei-as com rédea curta para que não experimentassem o mau caminho. Sei que errei muitas vezes, mas sempre na tentativa de ser uma supermãe.
Meus filhos se tornaram adultos. Estão casados e bem-sucedidos. Sou avó de oito netos e dois bisnetos. Minha saúde está desmoronando rapidamente. Tenho diabetes, osteoporose e safenas. Há anos estou confinada numa cadeira de rodas, no mesmo canto da sala, para não obstruir.
Perto do ocaso, constato que a vida é injusta. Eu, que sempre desejei superpoderes, sem tê-los, hoje tenho um: o poder da invisibilidade. Mas esse eu não queria de jeito nenhum, porque dói demais ver meus filhos, netos e bisnetos passarem por mim e não perceberem que eu existo.