
Todos os finais de semana ele frequentava o mesmo bar no centro da cidade e contava a mesma história; e fazia isso para que alguém lhe pagasse alguma bebida. Se a história era verdadeira ou não, ninguém sabia.
Sábado passado eu estava no bar quando ele chegou. Trajava calça xadrez e uma jaqueta enorme. Ele era um homem de estatura média, calvo, que ostentava bigodinho semelhante ao de Salvador Dalí.
Eu havia ido ao bar apenas para comprar refrigerante, mas resolvi engrossar a plateia. O dono do bar, um homem vermelho e bonachão, me explicou que, no início, a história era contada sobre uma cadeira; mas, a fim de dar mais visibilidade à eloquência, passou a ser narrada sobre as mesas.
Sentei-me junto ao balcão e esperei o indivíduo abrir a boca.
— Meus amigos, a história é de arrepiar. Era madrugada e eu estava sobre a ponte do Rio Paraíba do Sul quando ela apareceu e disse:
“Ei, moço! O que está pretendendo fazer?”
— Pular – respondi, sem titubear.
“Pular? Você sabe qual é a profundidade desse rio?”
— É muito, muito profundo – constatei após me curvar sobre a barreira de segurança.
“Sabe nadar?”
— Tanto quanto uma pedra de cem quilos.
“E vai pular mesmo assim?”
— Vou.
“Por quê?”
— Estou cansado de tudo.
“De tudo? Tipo o quê?”
— De tudo. Por exemplo: estou cansado dos filhos – inventei e virei o rosto na esperança de que ela fosse embora.
“Mas você não tem filhos… não tem esposa… não tem emprego… não tem casa…”
— Como sabe disso tudo? Quem é você? Você me conhece de onde?
“Deixa pra lá.”
— Ei! Não se aproxime!
“Eu só quero e vou ajudar você. Não se preocupe.”
— Fique longe de mim!
“Tudo vai ficar bem.”
— Ela se aproximou, olhou dentro dos meus olhos e me empurrou. Enquanto eu caía ela gritou:
“Não gosto de gente indecisa. Eu sou a morte.”
A minha sorte foi que, antes de ser engolido pelo rio, eu acordei.
Eu me levantei me sentindo tolo por ter perdido tempo com uma história tão insossa. Antes de deixar o estabelecimento, eu o vi tirar a jaqueta e mostrar o paraquedas e dizer:
— Agora ela pode me empurrar quando quiser. Estou protegido.
Mas, infelizmente, ao tentar descer da mesa, ele caiu sem tempo para acionar o equipamento.