No mês em que são divulgados os resultados da maioria das provas realizadas no ano passado e em que alunos e professores comemoram as notas obtidas e as aprovações alcançadas, proponho uma reflexão sobre as exigências que a sociedade contemporânea impõe a nossos estudantes – e também a cada um de nós – no que se refere à vida acadêmica e profissional.
Primeiramente, parabenizo aqueles que obtiveram êxito e abraço os que ainda não conquistaram a aprovação tão desejada. A estes, ressalto: toda nota é uma conquista, tudo é aprendizado, é crescimento. Sigamos!
Não podemos ignorar, no entanto, a toada do mundo. O que mais esperam da gente? Resultados, pódios, medalhas, troféus – e holofotes. É notório que vivemos, há décadas, numa “sociedade de desempenho”. Essa expressão sintetiza um dos temas centrais do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, uma das vozes mais inovadoras da atualidade e cujas ideias são muito bem-vindas nesta conversa.
No ensaio “Sociedade do cansaço”, o autor afirma que a pressão do desempenho, exercida pelas contingências da contemporaneidade – e muito mais interna do que externa-, leva a transtornos como ansiedade e depressão, produzindo “infartos psíquicos”. A sentença soa de maneira trágica, mas estamos apenas falando de nossa realidade permanentemente desafiadora. Nesse mundo de números e cifras, a pessoa passa a cobrar de si mesma performances que, muitas vezes, nem representam tudo o que realmente lhe importa, sendo, dessa forma, injusta consigo mesma. Não é assim?
Interessante é perceber que a situação parece oferecer ainda mais riscos àqueles que têm êxito em suas tarefas. A análise de Han surpreende: para ele, “a agudização hiperativa da atividade faz com que essa se converta numa hiperpassividade, na qual se dá anuência irresistivelmente a todo e qualquer impulso e estímulo” – um paradoxo nem sempre percebido.
O pensador destaca que não há espaço para a hesitação nem para a contemplação – e “o excesso da elevação do desempenho leva a um infarto da alma”, gerando um cansaço solitário, que individualiza e isola. Eis que o desempenho se torna vazio, porque nunca suficiente. Estejamos, portanto, atentos à maneira como temos lidado com todas essas questões na vida cotidiana.
Com base nesses estudos, o filósofo vai além e traça um diagnóstico preciso sobre as relações humanas afetadas pelo universo virtual: “O mundo digital é pobre em alteridade e em sua resistência. Nos círculos virtuais, o eu pode mover-se praticamente desprovido do ‘princípio de realidade’, que seria um princípio do outro e da resistência. Ali, o eu narcísico encontra-se sobretudo consigo mesmo. (…) O sujeito do desempenho pós-moderno, que dispõe de uma quantidade exagerada de opções, não é capaz de estabelecer ligações intensas”.
Ora, sabemos que, atualmente, muitos de nossos problemas ganham palco nas redes socias e tendem a crescer a partir delas. Mirando-se em vidas perfeitas e pódios fascinantes, o sujeito vive para conquistar esses prêmios, os quais parecem tão facilmente possíveis ao outro. E os discursos motivacionais, alguns até com boas intenções, reforçam tais anseios e impressões.
Enfim, retorno ao princípio: nos primeiros passos deste novo ano, celebremos, naturalmente, a caminhada do ano que passou – sempre de olho no que virá. Perceba a simultaneidade: presente, passado e futuro reúnem-se a cada amanhecer e em cada uma de nossas ações. E é preciso saber agir a partir das conquistas que obtivermos – lúcidos para o que se aprende todos os dias e atentos para que o desempenho, muitas vezes louvável, não nos sobrecarregue e ofusque todo o resto. Acordados com o mundo, comemoremos nossos resultados – está tudo bem. Acordados com o que mais nos importa, valorizemos nossos aprendizados – é o que somos!