Semanalmente, eu recebo, na redação do Jornal Tribuna do Norte, estudantes dos primeiros anos escolares, que vão conhecer um pouco da rotina de um dos jornais mais antigos do país. Meu papel, nestes encontros, é falar sobre o papel dos jornalistas na divulgação da verdade. Sim, da verdade que além da notícia.
Uma de nossas pautas recorrentes são as fake news, as falsas notícias divulgadas pelos veículos de comunicação, redes sociais e até no boca-a-boca cotidiano.
E quanto mais eu converso com essas crianças sobre esse tema, mais eu reflito sobre o quanto deixamos a busca da verdade de lado, em prol da “nossa verdade”.
Parece, à primeira vista, tão mais fácil viver na bolha da nossa crença, não é mesmo? Mas será mesmo? E essa reflexão transcende o jornalismo, embora seja fundamental que ela atravesse o jornalista.
Um exemplo: um dia desses, minha filha de sete anos chegou da escola reclamando de dor de estômago. Logo eu perguntei sobre sua alimentação. Ela havia comido pizza na noite anterior. Eu tenho estômago bem sensível e pizza à noite fatalmente me fará mal no dia seguinte. Conclusão: deduzi que minha filha estava passando mal por conta da pizza, dei um antiácido e falei que logo ia passar.
Acontece que não passou. A dor piorou e eu tive que levá-la ao hospital, onde ela foi diagnosticada com uma virose severa, precisou tomar antibióticos e ficar de repouso vários dias até sarar.
E o que isso tem a ver com o nosso assunto? O fato é que eu simplesmente me baseei na minha verdade para olhar para a realidade da minha filha. Foi mais fácil na hora. Mas não foi o correto. Minha “certeza cega” a fez sofrer por mais tempo antes de ser medicada corretamente.
E aplicando isso para tudo na vida, até quando vamos olhar para o próximo sob a nossa ótica, sem nos interessar pela realidade do outro? Até quando vamos contar histórias sob nosso ponto de vista, sem investigar o “outro lado”? Até quando vamos “decidir” o que é notícia e o que não vale a pena nem registrar, de acordo com a nossa vivência?
Para além do noticiário, quantas fake news temos produzido na nossa rotina, na nossa vida, no trabalho, em casa, nas rodinhas de amigos, nas conversas com nossas crianças, por não dedicarmos um olhar mais apurado ao que é diverso de nós?
Vale aqui lembrarmos a maior premissa do jornalismo que pode ir além do noticiário: é nossa responsabilidade, não só como jornalistas, mas como cidadãos, como parte da sociedade, buscar sempre a verdade. As verdades. Toda a verdade. E não apenas a nossa.
Espaço dedicado à AJOP, formada por jornalistas nascidos ou que atuam em Pindamonhangaba. Para participar e saber mais, acesse @ajop_pinda no Instagram.
