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Quando o voluntariado vira cilada

O voluntariado é, por definição, um ato nobre: doar tempo, energia e talento para ajudar o próximo. Mas nem todo programa que se diz voluntário é, de fato, virtuoso. Em tempos de marketing social e empresas que querem parecer engajadas, o voluntariado virou moeda de prestígio — e, às vezes, de exploração.

Um dos erros mais comuns é tratar o voluntário como mão de obra gratuita. Já ouviu falar de instituições que exigem carga horária rígida, metas de desempenho e até relatórios semanais? Pois é. O voluntariado vira quase um emprego, mas sem salário, sem direitos e, muitas vezes, sem reconhecimento. O que era para ser uma experiência enriquecedora se transforma em uma obrigação desgastante. E tem até governos no Brasil se aproveitando desta situação e mesmo com denuncias não são tomadas providencias para o encerramento destas atividades.

Outro tropeço frequente é a falta de preparo. Muitos programas jogam o voluntário direto na ação, sem treinamento, sem contexto e, pior, sem escuta. A pessoa chega cheia de vontade de ajudar e sai frustrada, sentindo que atrapalhou mais do que contribuiu. Isso acontece muito em ações pontuais, como mutirões ou campanhas relâmpago, onde o improviso reina e o impacto real é difícil de medir.

E há ainda os casos mais delicados: quando o voluntariado é usado como vitrine. Algumas ONGs e empresas promovem ações sociais com direito a fotos, vídeos e hashtags, mas o foco está mais na imagem do que na transformação. O voluntário vira figurante de uma narrativa bonita, mas rasa. É o chamado “volunturismo”, quando pessoas viajam para ajudar comunidades carentes, mas acabam mais preocupadas com selfies do que com soluções.

Não se trata de desmerecer quem quer ajudar — pelo contrário. O voluntariado bem-feito é poderoso. Mas é preciso cuidado para que ele não vire ferramenta de vaidade ou exploração. Bons programas escutam, formam, acolhem e respeitam. Eles entendem que ajudar é também aprender, e que o voluntário não é herói, mas parceiro.

Antes de se engajar, vale a pena fazer algumas perguntas: Qual é o impacto real da ação? Quem está sendo beneficiado? O voluntário está sendo bem orientado? Há espaço para diálogo e troca? Se as respostas forem vagas ou evasivas, talvez seja melhor procurar outro caminho. Porque ajudar, sim. Mas com propósito, respeito e consciência. Afinal, voluntariado não é sobre aparecer — é sobre transformar.

Construindo cidadania

Roberto Ravagnani
Roberto Ravagnani
Roberto Ravagnani é palestrante, jornalista, radialista e consultor. Voluntário como palhaço hospitalar há 17 anos, fundador da ONG Canto Cidadão, consultor associado para o voluntariado da GIA Consultores para América Latina e sócio da empresa de consultoria Comunidea.
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