Na divulgação dos danos que a época chuvosa causava ao município de Pindamonhangaba, encontramos na edição de 8/2/1885, em artigo intitulado “Enchente”, comentário relacionado à perda da ponte sobre o rio Paraíba e o consequente prejuízo causado:
“Como era de se esperar, as últimas chuvas transformaram o Paraíba em um oceano de água doce, ficando completamente coberta toda a várzea. O próprio aterrado junto à ponte, que nos garantiram: com o último conserto que ali se realizara havia ficado com altura de 1 metro acima do nível da maior enchente que temos tido, logo nos primeiros dias foi coberto pelas águas; do que podemos concluir que se falou exageradamente do conserto realizado, que não é o que se dizia, pois não resistiu a prova d’água, devendo-se notar que a cheia esteve muito longe de atingir a altura que chegou em 1882”.
Segundo a Tribuna, a iniciativa de um cidadão fora providencial para que a comunicação com a margem oposta não fosse interrompida: “…o sr. 1 Pinheiro da Silva, negociante que tem interesse em manter as relações comerciais que o nosso município tem com o sul de Minas, mandou, por sua conta, fazer os necessários reparos, com o que o trânsito se restabeleceu. Eis aqui um ato que merece os nossos aplausos e o agradecimento do município”.
E a correnteza levou…
Um ano depois, a Tribuna, edição de 21/2/1886, em matéria de primeira página, noticiava que novamente as águas haviam causado danos à ponte:
“A nossa ponte sobre o rio Paraíba, no dia 17, às 10 horas da manhã, teve de ceder à força da corrente e quase a metade lá se foi pela água abaixo”
O referido artigo, acreditamos de autoria do próprio fundador do jornal, o político Dr. João Romeiro, criticava a falta de atenção do governo provincial (governador do Estado de São Paulo) pela desatenção ao alerta sobre “o estado ruinoso da ponte”, destacando que se tivesse atendido ao alerta quando a ponte necessitava de “ligeiro conserto, ela poderia ainda servir por largo tempo” e evitar a despesa que a província passava a ter.
“Ninguém nos ouvia, ninguém queria que falasse nisso; e o engenheiro do distrito, que não sabemos para que existe, ou não tomava conhecimento das nossas reclamações, ou as considerava improcedentes, ou não era atendido pela presidência”, desabafava o redator da Tribuna. Aqui lembramos que o termo presidência significava governo estadual.
A crítica ao ocorrido prosseguia já prevendo o grande prejuízo que teriam comércio e lavoura, além de despesa para a província (estado). “Tudo isso por incúria do governo, que não acudiu a tempo, aos nossos reclamos, da Câmara Municipal”, ressaltava.
Para o articulista, felizmente não houvera mortes, “pois eram muitos aqueles que se expunham ao perigo que ali estava”. Restava então ao município pedir ao conselheiro João Alfredo (João Alfredo Correia de Oliveira, presidente da Província de São Paulo, 1885/1886) urgência na construção de nova ponte para restabelecer a comunicação entre as margens. A questão não era somente de interesse municipal, mas provincial (do estado), levando se em conta que por ali é que se escoavam os produtos oriundos do Vale do Sapucaí como destino à estação de Pindamonhangaba da então Estrada de Ferro do Norte, também chamada de Estrada de Ferro São Paulo e Rio de Janeiro. Não havendo o embarque das mercadorias os prejuízos afetariam diretamente a província.
No artigo a Tribuna fazia recordar os leitores que desde a entrega da ponte, por volta de 1873, já se previa que não seria aproveitada por muito tempo, e complementava: “…e não faltou quem reclamasse contra a imperfeição da obra. Mas como, mesma imperfeita, e mal segura, estava construída exatamente na conformidade do contrato assinado pelos empreiteiros, a província não teve remédio se não aceitá-la”.
Na edição de 6/6/1886, quatro meses depois, a Tribuna finalmente publicava a nota na qual o governo paulista autorizara a construção de uma ponte sobre o rio Paraíba, em Pindamonhangaba, obra que seria edificada em trecho acima de onde existira a ponte do Bosque da Princesa.
Essa nova ponte, segundo publicação na edição de 27/7/1969 da Tribuna, no início do século XX, por volta de 1908, foi substituída por outra que apesar de já usada, era de arcos de ferro e havia sido importada da Alemanha.
Sobre a de concreto, que se encontra no local, foi obra que envolveu um convênio entre a Prefeitura e o Estado, tendo sua inauguração ocorrida em 10/7/1970, com a presença do governador Abreu Sodré, convidado especial do prefeito Dr. Caio Gomes Figueiredo (inauguração que foi tema dessa editoria de história na edição de 6/10/2006).
Nota:
1 Pinheiro da Silva. Em Athayde Marcondes encontramos que o cidadão Pinheiro da Silva era um português casado com a pindamonhangabense dona Emília Pestana. Neste município foi um atuante cidadão e político (vereador). Foi um dos fundadores do Clube Literário e Recreativo e pertencia à Loja Maçônica “Honra e Virtude”. Um de seus filhos foi o considerado “médico dos pobres”, o Dr. Antonio Pinheiro Júnior.