A página de História de hoje recorda o desaparecimento da histórica Igreja Nossa Senhora do Rosário, santuário cujas quermesses e eventos religiosos o tornavam a referência quando se falava da Praça Dr. Francisco Romeiro, ou seja, do Largo do Cruzeiro que também foi Largo do Rosário.
É da edição de 28/3/1931 da Tribuna do Norte, a crônica, de autoria de Paulo A. Pompeu, sobre os dias em que colocaram a igreja ao chão. Em texto algo poético intitulado “Tradição que desaparece”, o autor, que teria sido testemunha ocular do fim dado ao velho templo, assim comenta seu lento e melancólico desaparecer:
“Quem passar daqui a poucos dias pelo largo do Cruzeiro, há de sentir, por certo, a falta de um vulto muito venerado e muito querido.
O leitor já percebeu que quero me referir à Igreja do Rosário.
A tradicional igreja vai desaparecendo, pouco a pouco, sob os golpes impiedosos das picaretas.
Sentado em um banco do jardim, vejo a sua triste agonia.
Daquele templo antigo, a quem diversas gerações contemplaram, só restam alguns pedaços de paredes.
Carroças carregadas dos despojos veneráveis da igreja, passam pelo largo.
Enquanto ouço o soturno barulho produzido pela faina demolidora das picaretas, evoco o pouco que sei da história da Igreja do Rosário. Diz Athayde Marcondes que ela foi fundada em fins do século XVIII pelo sargento-mor José Homem de Mello. A princípio era um edifício simples, de aparência aldeã, para o que muito contribuía o aspecto do Largo do Cruzeiro, que apresentava muita diferença do atual. Por esse tempo, ali quase não existiam, como se verifica em fotografia publicada no livro ‘Pindamonhangaba’ de autoria do saudoso Athayde Marcondes.
Em 1899 uma comissão de fiéis executou diversos melhoramentos na igreja, dotando-a de torres, e dando-lhe um aspecto semelhante ao da matriz.
Igualmente em 1917, foram feitas diversas reformas.
Os pindenses sentem-se tristes ao ver a demolição de uma casa de oração onde seus antepassados iam render homenagem ao Senhor.
A velha igreja de quase dois séculos de existência estava ameaçando a segurança dos transeuntes, pois, de um momento para o outro, poderia desmoronar-se.
A segurança dos munícipes deve ser colocada acima do culto do passado.
Obedecendo a este princípio, é que foi iniciada a demolição.
Querendo ver pela derradeira vez a igreja querida, cerro os olhos, e, parece-me que ainda a contemplo, majestosa, ostentando as cruzes lá no alto, mais perto do céu…
Volto à realidade, e só vejo as ruínas, donde levanta-se uma poeira dourada, ironicamente, pelo sol…”