A palavra prudência é originada do termo latino “Prudentia”, cujo significado mais remoto é “Previsão”. Representa uma capacidade de julgar entre ações, sobretudo as virtuosas, com referência a atos apropriados num determinado tempo e lugar. No consenso geral da maioria dos pensadores, refere-se a um padrão de pensamento e conduta baseado em padrões morais elevados.
Como os filósofos encaram esse tema tão palpitante? Dois deles chamam a nossa atenção especial: Aristóteles e Tomás de Aquino.
Aristóteles (384-320 A.C.) foi um filósofo grego para quem Deus é a causa inicial e final do Universo, o qual passou-nos a ideia de que a prudência é uma virtude da parte racional da alma dirigida para fins práticos, possuidora do princípio da ação. Na sua principal obra “Ética a Nicômaco”, a prudência possui papel essencial em ser a virtude intelectual, aquela que possibilita ao homem a plenitude de suas capacidades raciocinativas voltadas para a ação, ou seja, a parte racional voltada para fins práticos. O desejo do prudente procura o que pela razão é corretamente formulado como verdadeiro. O conhecimento no prudente não é teórico, mas tem origem na sua vivência própria que lhe permite racionalidade prática, e a capacidade de apreensão dos elementos variáveis e o cálculo para a boa ação obtida a partir da reflexão da atividade exercida pelo agente. E é justamente essa prática de boas ações que o ser humano regula o seu desejo que passa a exercer a prática do bem, por meio da experiência a qual possibilita enxergar o saber prudencial, saber esse que induz o raciocínio deliberativo sobre o que deve ou não fazer. Ora, o conhecimento teórico ou filosófico, sabemos que confere valia no campo prático visto que, é a partir das atividades que iremos determinar o mundo que desejamos viver com o próximo nas ações racionais guiadas pela prudência. Assim, vamos entender que o prudente constrói a sua felicidade, na medida em que conduz o próximo à boa ação, nas mais diversas situações pelo desejo do bem.
Nessa linha de pensamento, na sua fenomenal obra “Suma Teológica” (questão 47), Tomás de Aquino (1225-1274), referência essencial na Filosofia Escolástica, Doutor e Santo da Igreja Católica, nos afirma que a prudência é a razão reta do agir, isto é, a deliberação correta sobre a atuação e a escolha dos meios para a sua concretização. Aqui, convém apreciarmos as operações distintas do intelecto e da vontade: ao primeiro cabe a deliberação ou razão prática, e ao segundo refere-se à escolha dos meios e motivação para a obtenção do fim ou do bem. É importante acentuar que a prudência, por sua própria matéria, reside na retidão do desejo, mas, por sua essência, é intelectiva. E Tomás de Aquino nos diz de forma bem clara: “Toda virtude que faz o bem de acordo com a razão será chamada de PRUDÊNCIA e, toda virtude que faz o bem do que é devido e reto nas ações, será chamado de JUSTIÇA”. A prudência, portanto, ao se preocupar em aplicar ações corretas (oriundas do próprio agente), assume valor extraordinário, quando a grande finalidade for alcançar o bem humano, dando “ordenamento às virtudes morais”, como pontua Tomás de Aquino. E ela segue atuando em três operações simultâneas: deliberando, julgando e comandando.
Na prática, a prudência confere à pessoa um nível maior de sensibilidade, para identificar situações de risco, garantindo ao ser humano um senso maior de autopreservação e cuidado com o outro. Portanto, torna-se evidente que, para atuar com prudência, faz-se mister tomar decisões sensatas, certas, e deliberar a respeito dos meios corretos para almejar os fins que tragam felicidade, ou pelo menos, alívio para o sofrimento dos nossos irmãos, que, nos tempos modernos, tanto sofrem com a fome, a miséria social, à espera de uma luz de esperança.