
Deveria existir um curso de consertos. Um curso diferente de todos os que existem. Um curso mais importante do que aqueles que ensinam a consertar roupas, fazer ajustes, remendar, recolocar botões; mais importante do que eliminar fissuras de paredes e trocar telhas quebradas; mais importante do que qualquer certificado ou diploma de curso de consertos emoldurado e exposto, com destaque, em local nobre da casa.
Imaginem: um curso de consertar vazamentos! Já existe? Eu desconheço. Não, não se trata daquele que forma encanadores. Eu me refiro a um curso de consertar vazamentos nos… olhos. Aqueles vazamentos que nascem lá dentro da gente, causado por variações de desconsolos.
Quem nunca teve vazamentos originados por desprezos, perdas, incompreensões, afrontas, deslealdades, mentiras… As causas são intermináveis.
A primeira aula do curso seria focada no exercício da empatia in loco. Os consertadores aprendizes seriam incumbidos de identificar, dentro da própria família, marejares e transbordamentos lacrimais. Só depois, amigos, vizinhos e desconhecidos.
Teoricamente pode parecer simples identificar vazamentos, mas não é; pois, existem casos classificados como invisíveis, perceptíveis somente aos olhos do coração. Esses casos são os mais perigosos porque podem mascarar a depressão.
Quando o vazamento for inequívoco, a abordagem, o diálogo sem imposições e sem ferir a privacidade, é a melhor opção. Haverá casos em que o diálogo se transformará em monólogo devido à necessidade da confissão dos ferimentos.
Seja em diálogos ou monólogos, o consertador deverá manter os ouvidos aguçados e o olhar atento a cada palavra pronunciada, sem interrupções. A dor declarada poderá parecer insignificante, mas, certamente, lacerante para quem a sente.
“Pimenta nos olhos dos outros não arde”. Conselhos somente deverão ser oferecidos quando solicitados, e se o consertador tiver sabedoria na questão.
Em qualquer abordagem, existem algumas frases fundamentais que devem ser proferidas, desde que purificadas com amor: “Conte comigo!” “Você é importante para mim!” “Eu amo você!”.
Há muita gente precisando de colo, e há muita gente pensando somente no próprio umbigo. Para um consertador de vazamentos, é imprescindível investigar os subterrâneos dos filhos, dos pais, irmãos e amigos, onde pode haver um pedido de socorro sufocado. Qualquer descuido pode ser fatal.
E, ao finalizar o encontro, o consertador deve utilizar o laço mais bonito que existe: o abraço demorado, acolhedor, de maneira que os corações se toquem.
Para finalizar, preciso dizer: Conte comigo! Você é importante para mim! Eu amo você!