
Largo do Rossio, que quer dizer praça larga, largo espaçoso, era como se chamava no final do século XIX a praça que ficaria histórica e popularmente conhecida como Largo São José.
Altair Fernandes Carvalho
Nossa Página de História desta edição refere-se a um documento pertencente ao acervo do Arquivo Histórico Municipal Waldomiro Benedito de Abreu (transcrição paleográfica de Silvia Maria Pereira Novais e Jurandyr Ferraz de Campos), que diz respeito a uma série de desapropriações movidas pela Câmara Municipal da então Vila Real de Pindamonhangaba em 1844, objetivando reaver terrenos murados que antes formavam o “Largo do Rossio”, espaço onde atualmente se localiza a Praça Barão do Rio Branco (tradicionalmente denominado Largo São José).
A Câmara havia julgado de utilidade pública e municipal que o tal logradouro voltasse a ser como era antes. É que a legislatura anterior, tendo concedido a maior parte daquela área para proprietários formarem seus quintais, havia desmanchado a praça, onde na época estava sendo edificada a igreja dedicada a São José. Por consequência desse ato, a igreja se encontrava entre dois terrenos murados.
Para a Câmara, ao ceder os terrenos para formação de quintais, o poder público havia tirado o merecimento, ou seja, a importância do referido logradouro. Uma das ações visando reintegrá-los ao patrimônio municipal, legalmente e de acordo com o valor que fosse arbitrado, foi contra Manoel Eufrazio de Toledo e sua mulher, dona Anna Rosa de Abreu.
A primeira ação neste sentido foi uma audiência pública realizada às 10 horas da manhã do dia 16 de setembro de 1844, a qual teve como juiz municipal Ignácio Marcondes de Oliveira Cabral; escrivão, Miguel Gonçalves da Silva; porteiro das audiências, responsável pelo pregão, Benedito Rodrigues da Silva; e procurador da Câmara, Antonio Marques Villela.
Naquela audiência pública foram escolhidos e nomeadas as autoridades que procederiam à avaliação em dois quintais pertencentes ao casal acima citado. A data da avaliação foi então marcada pelo juiz municipal para o dia 23 de setembro, às 4 horas da tarde, mas devido a um inconveniente acabou sendo realizada no dia 7 de outubro daquele ano de 1844 no “Largo do Rossio”.
A avaliação ocorreu com a presença do juiz Ignacio Marcondes de Oliveira Cabral, tendo como escrivão Antonio Filiciano de Morais.
No local, os avaliadores Antonio de Godoy Moreira e Adriano de Almeida, declararam os seguintes valores: os dois terrenos pela quantia de duzentos mil réis (200$000) mais 70 braças (uma braça equivalia a 2,2m) de muros a três mil e seiscentos, perfazendo um total de duzentos e cinquenta e dois mil réis (252$000).
Avaliaram ainda: mais sete e meia braças de muro que divisavam com outro quintal a dois mil e quatrocentos réis, total de dezoito mil réis (18$000); as telhas que cobriam os muros, que saiu a quarenta e quatro mil réis (44$000).
E foi assim que, somados os valores da avaliação, obteve-se um total geral de quinhentos e quatorze mil réis (514$000), quantia esta que devolveria ao Largo do Rossio o espaço que já lhe pertencia.
Largo São José, a praça Barão do Rio Branco
Com a edificação da igreja, cujas obras de construção só foram concluídas em 1848, a denominação “Largo do Rossio” foi sendo esquecida e o local passou a ser conhecido como Largo São José. No entanto, ainda que esta denominação tenha se popularizado até os dias atuais, o histórico logradouro também já foi conhecido por Largo da Imperatriz e Praça Municipal.
Largo da Imperatriz passou a se chamar depois da visita que o imperador Pedro II e sua esposa dona Tereza Cristina fizeram a Pindamonhangaba, em 1877. Foi uma forma de homenagear a imperatriz. Essa denominação durou até a proclamação da República. Aí as denominações que lembravam a monarquia começaram a ser extintas e, por causa disso, os políticos da época passaram a se referir ao largo simplesmente como Praça Municipal.
Somente em 1915 é que surgiu a praça Barão do Rio Branco. Uma homenagem ao diplomata nascido no Rio de Janeiro, José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845 – 1912), historiador, estadista, diplomata, filho do visconde do Rio Branco. Nomeado barão do Rio Branco pela princesa Isabel, quando o governo republicano anulou os títulos nobiliárquicos ele passou a assinar José Maria Paranhos do Rio Branco.
No miolo histórico de Pindamonhangaba…
Atualmente no local (Praça Barão do Rio Branco) se encontram edificações e entidades seculares: Palacete Tiradentes, construído entre 1862 e 1865, antiga sede da Câmara Municipal; igreja São José, concluída em 1848; prédio do antigo Externato São José, inaugurado em 1924 (atual Externato Bom Jesus); prédio da agência de Correios e Telégrafos, que começou a ser construído em 1950 e só foi inaugurado em 1960.
A novidade é que o prédio vizinho ao Externato (que já funcionou como anexo da Câmara quando esta ocupava o Palacete Tiradentes), depois de haver sediado (julho de 2010 a julho de 2023) o secular jornal Tribuna do Norte (143 anos) passa, neste ano de 2025, a sediar a entidade mais antiga de Pindamonhangaba: a Corporação Musical Euterpe, que no próximo dia 22 de agosto completará dois séculos de existência…
Concluindo, enriquecendo ainda mais histórica e culturalmente o antigo “Largo”, lembramos que em vias próximas dali temos, pelo menos, três edificações de incontestável e imensurável valor para nossa história: o Santuário Mariano, o palacete “Visconde da Palmeira” e o palacete “10 de Julho” (Barão do Itapeva).