O termo PIEDADE na língua latina é proveniente da palavra” Pietas” a qual significa“ devoção”, “afeição” ,”bondade”.. Representava na Antiga Roma uma virtude diretamente vinculada a deveres e devoção para com os deuses e família. No nosso mundo atual houve uma evolução desse vocábulo e tem relação com a compaixão para com o sofrimento alheio e a devoção religiosa. Esse mesmo sentido vamos encontrar no grego na palavra “Eusebeia” ( Eu=bom e sebas=piedade, reverência a Deus. Dessa maneira, designamos o ser humano reverente a Deus e que trilha as estradas da vida em consonância com os desígnios divinos e mostra compaixão.
Como a Filosofia tem visto essa virtude ao longo do tempo? Basta lembrar o Filósofo Chinês Confúcio (551-479 A.C.) para quem a piedade filial traduz profundo respeito aos pais e ancestrais demonstrado pelo dever e gratidão. Na Filosofia Grega é bem conhecido o diálogo entre o Filósofo Sócrates e Eutrífron com a finalidade de definir o que é ser piedoso, culminando com o célebre“ Dilema de Eutrífon”, quando esse define a piedade como ação que agrada aos deuses e Sócrates questiona se a piedade não se trata de uma barganha com o divino.
Aqui, é importante colocar o uso do “apelo à piedade”, como algo falacioso (no argumento), uma vez que é possível aconselhar uma pessoa a aceitar uma conclusão apelando à compaixão, sem apresentar justificativas coerentes, dentro dos critérios da razão. E, não é o que apreciamos, ao longo dos tempos com os hipócritas e enganadores, em especial os políticos sem caráter e desonestos em benefício próprios?
São Tomás de Aquino (1225-1274), Teólogo e Filósofo Escolástico italiano, que procurou harmonizar a fé cristã com a razão, falou da piedade no contexto dos pais e da pátria, vinculando-a como a virtude cardeal da justiça, sendo, portanto, uma virtude moral, pois, por ela se oferece a Deus o que lhe é devido. Dessa maneira, essa virtude ao aperfeiçoar a virtude da justiça, irá permitir ao ser humano as suas obrigações para com Deus e o próximo, com alegria e boa vontade.
O saudoso Papa Francisco, em pronunciamento, há alguns anos, afirmou:” A piedade destaca a nossa amizade com Deus, é um presente que permite às pessoas servirem ao próximo com gentileza e com um sorriso”.
Nunca é tarde para atentarmos ao que nos fala o fantástico psicólogo suíço Carl Gustav Jung, fundador da Psicologia Analítica: “A verdadeira piedade surge quando somos capazes de reconhecer as nossas próprias feridas (sombras) e nos conectamos com a dor do outro, passo crucial para o desenvolvimento pessoal”.
E, o que seria a “piedade natural” da qual falam alguns estudiosos? Esse fenômeno nos conduz a quem primeiro escreveu sobre o assunto: o Filósofo Franco-Suiço do Iluminismo: Jean Jacques Rousseau (1712-1778). Ele nos ensina que ela representa a virtude que faz com que nos coloquemos no lugar do outro que sofre as intempéries da vida, uma vez que nos comparamos com o sofredor, ao usarmos a nossa imaginação, compadecendo-nos com sua dor, reconhecendo que podemos passar pela mesma situação.
Assim, nos sensibilizamos com a dor alheia, sofremos com ela e acolhendo o que sofre. O próprio Rousseau, na sua obra “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre homens”, tão atual, nos fala que usar a comiseração decorre da sensibilidade que voluntariamente dispensamos ao que padece, uma vez que estamos sujeitos aos sofrimentos da vida, motivo pelo qual ele escreve:” A comiseração deve ser um sentimento muito doce, já que depõe em nosso favor”.
Não podemos nos esquecer que o acentuado amor próprio que se transmuta em egoísmo, na ânsia de ter mais, possibilita a desigualdade, o domínio, o ódio, os conflitos e toda sorte de misérias que atormentam a humanidade. E, esse Filósofo, autor de “O Contrato Social” nos alerta para que impeçamos que a indiferença se instale nos nossos corações, que nos torna duros, cruéis e profundamente infelizes.









