Especialistas alertam sobre riscos à saúde e ao meio ambiente. Pindamonhangaba enfrenta a maior seca dos últimos dez anos. A estiagem prolongada, com baixos índices de chuva e queda da umidade relativa do ar, traz consequências diretas para a saúde da população, pressiona o meio ambiente e aumenta os riscos de queimadas no município.
Segundo a Defesa Civil, o município registrou menos de 500 milímetros de chuva desde janeiro, índice que reforça a gravidade do cenário. A situação reflete tanto as condições da região quanto fenômenos climáticos mais amplos, evidenciando a urgência de medidas de prevenção e de conscientização da população.
Clima regional e impacto das mudanças globais
Para o professor Ademir Morelli, da Universidade de Taubaté (Unitau) e doutor em Geociências e Meio Ambiente, a estiagem deve ser analisada no contexto mais amplo do clima regional. “Pindamonhangaba tem um clima local que é uma representação do clima do Vale do Paraíba, não sendo diferente, mas sim parte dele”, afirma.
Ele explica que a localização entre a Serra da Mantiqueira e a Serra do Mar, o relevo e a proximidade do litoral determinam um clima subtropical úmido, com verões chuvosos e invernos secos. Segundo o professor, diversos sistemas meteorológicos influenciam o clima do Sudeste, como frentes frias, ciclones, linhas de instabilidade e a Alta Subtropical do Atlântico Sul.
Nos últimos anos, tem se verificado um aumento de dias secos consecutivos, intensificando os períodos de estiagem. A baixa umidade relativa do ar, em alguns dias inferior a 30%, tem efeitos diretos sobre a saúde da população. Segundo Morelli, a condição aumenta problemas respiratórios, irritações nos olhos e na pele, além de maior vulnerabilidade a doenças infecciosas.
Ele também chama atenção para fatores humanos: “O desmatamento agrava a situação […] e a falta de áreas verdes contribui para o efeito de ‘ilha de calor urbana’”. Na avaliação do professor, a tendência é que a região continue enfrentando períodos secos no inverno, com melhora apenas com a chegada da primavera. “Em agosto e primeira quinzena de setembro ainda continuará o tempo seco. Com a chegada da primavera, a população pode esperar um aumento gradual da ocorrência de chuvas, com temporais mais frequentes”.
Prevenção e combate às queimadas
Na prática, a estiagem já tem efeitos perceptíveis no dia a dia da cidade. O diretor da Defesa Civil de Pindamonhangaba, Michel Cassiano, destaca que “este tempo seco favorece ao aumento do número de queimadas no município”. Só a Defesa Civil registrou mais de 40 ocorrências de combate a incêndios neste ano, algumas próximas a residências.
Ele ressalta que, na maioria dos casos, a ação humana é predominante: “A cada 10 incêndios registrados, 9 têm ação humana”. Para reduzir os riscos, a Defesa Civil orienta a população a não realizar queimadas, lembrando que a prática é crime.
“Nunca queime lixo ou mato em terrenos, não jogue bitucas de cigarro em rodovias, não solte balões e não acenda fogueiras em áreas de mata”, alerta Cassiano. Ele recomenda ainda cuidados com a saúde: manter hidratação constante, usar toalhas úmidas ou recipientes com água em ambientes e evitar exercícios físicos entre 10h e 16h.
O diretor reforça que o município conta com agentes treinados e brigadas voluntárias em diferentes bairros e participa da Operação São Paulo sem Fogo, que vai de junho a outubro e atualmente está na fase vermelha (alerta máximo).
Além das ações emergenciais, Morelli ressalta a importância de soluções de longo prazo, incluindo a redução do consumo de energia e água, o uso de transporte sustentável, a reciclagem e o apoio a políticas públicas de preservação. Projetos como o UrbVerde, da USP, e o Guia de Ação Direta para Adaptação e Mitigação às Mudanças Climáticas de Taubaté podem auxiliar na conscientização e engajamento da população.
