
de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Pindamonhangaba
O retorno de Donald Trump à Casa Branca marcou também a volta de uma política econômica ousada e controversa: o uso de tarifas como ferramenta de política externa, fiscal e industrial.
Apesar do consenso acadêmico de que tarifas distorcem preços, reduzem PIB e produtividade, aumentam desemprego e desigualdade, o governo Trump acredita que elas são estratégicas para alcançar objetivos maiores: desvalorizar o dólar, estimular a indústria nacional e alongar o perfil da dívida americana.
Na visão da nova administração, o chamado “Acordo de Mar-a-Lago” resume essa lógica: os Estados Unidos continuam oferecendo segurança militar e acesso ao seu mercado consumidor, em troca de uma economia doméstica mais robusta, com dólar mais fraco e menos dependente de capital de curto prazo.
O plano, ainda informal, envolve inclusive a emissão de títulos de dívida de 50 ou 100 anos, sem pagamento de juros periódicos, para alongar os vencimentos e reduzir a pressão sobre o orçamento.
A lógica por trás dessa estratégia se apoia em uma crítica antiga de Trump: o déficit comercial. Para ele, os déficits representam uma transferência injusta de riqueza para o exterior. O governo associa a sobrevalorização do dólar à perda de competitividade da indústria americana. Essa valorização, por sua vez, seria alimentada pela enorme demanda internacional por reservas em dólar – como demonstrado pelo Brasil, com US$ 350 bilhões em reservas, ou contrastado pela Argentina, dependente do FMI.
Ao tentar desvalorizar o dólar, Trump busca tornar produtos americanos mais competitivos e atrair novamente a produção industrial para o país, especialmente em setores estratégicos, como defesa e tecnologia.
A preocupação não é só econômica, mas também geopolítica: a dependência de cadeias produtivas globais, especialmente da China, é vista como risco à segurança nacional.
Outro ponto central é o mercado de trabalho. Embora o setor de serviços, especialmente saúde e assistência social, tenha liderado a criação de empregos desde 2023, o governo foca na indústria como símbolo de prosperidade e estabilidade.
A promessa de “trazer os empregos de volta” é politicamente poderosa, ainda que economicamente desafiadora. Com salários industriais bem acima da média global, só uma revolução em produtividade e automação poderia sustentar essa reindustrialização sem gerar inflação – o que, paradoxalmente, pode reduzir o número de empregos industriais, não aumentá-los.
No campo fiscal, a preocupação é crescente. O pagamento de juros da dívida americana custou quase US$ 900 bilhões em 2024 e pode ultrapassar US$ 1,6 trilhão até 2035.
Por isso, o governo tenta reduzir as taxas de juros de longo prazo, especialmente os títulos de 10 anos, que influenciam diretamente o crédito imobiliário. A meta: aliviar o custo da dívida e abrir espaço fiscal para promessas como cortes de impostos.
Trump, que em seu primeiro mandato acompanhava obsessivamente o desempenho da bolsa, agora volta seu foco para os juros dos títulos públicos, mais conectados ao dia a dia dos eleitores. A taxa de hipoteca de 30 anos, hoje próxima de 7%, virou símbolo de um crédito caro que limita o acesso à moradia – uma preocupação real para sua base eleitoral.
No fim das contas, o governo Trump aposta em uma doutrina que mistura nacionalismo econômico, geopolítica, populismo fiscal e uma tentativa de reconfigurar a ordem econômica global.
O sucesso dessa estratégia dependerá da capacidade de lidar com suas contradições: reindustrializar sem gerar inflação, desvalorizar o dólar sem perder credibilidade e alongar a dívida sem assustar investidores. O jogo é arriscado – e o mundo está de olho.