Em suas mãos, uma “revistinha” de palavras cruzadas, um passatempo analógico. Na mão direita, a ponta do lápis caminhava pela página com um ritmo ora indeciso, ora seguro. Do lado esquerdo, um prato com pão de queijo e uma xícara de café expresso esfriava lentamente, esquecidos talvez na ânsia de decifrar o enigma que se apresenta à sua frente.
Pensei: não é só os mais velhos que são adeptos desse passatempo. As novas gerações também gostam de rachar a cuca com cruzadinhas. Fiquei alguns minutos observando-o e devaneando. Lembrei de quando fui apresentada pela primeira vez às palavras cruzadas: eu tinha dez anos de idade e ganhei uma “revistinha” da Coquetel chamada “Picolé”. Foi amor à primeira vista. Desde então, não parei mais de fazer e tenho sempre uma na bolsa. Faço de todos os níveis: fácil, médio, difícil, desafio cérebro etc. Quando completo uma página, é como se eu ganhasse um troféu.
Em 1913, a palavra cruzada surgiu nos Estados Unidos, no jornal New York Word, na seção de entretenimento. No Brasil, foi publicada pela primeira vez em 1925, nas páginas do jornal carioca A Noite. Somente em 1948, ganhou figura e foi editada a primeira revista de palavras cruzadas, espalhando-se pelo país.
Ao longo do tempo, a linguagem foi ficando pouco a pouco mais informal, segundo especialistas. As temáticas mudaram: antigamente, eram dominadas por provérbios e referências culturais (nomes de filmes, atores, cantores, livros etc.). Mais tarde, passou a haver mais espaço para atualidades. A prática das palavras cruzadas é chamada de “cruzadismo” e quem as pratica são os “cruzadistas”.
Fazer palavras cruzadas pode parecer um simples passatempo, uma atividade de lazer ou entretenimento, porém, eu as considero uma verdadeira “ginástica mental”. Aquele rapaz na cafeteria, com uma revista de palavras cruzadas na mão, possivelmente estaria em busca da paz, longe das telas de computadores e smartphones? Seria a prática de fazer palavras cruzadas um antídoto aos exageros digitais?
Fica aí a dúvida para uma reflexão.