Não tem erro: os temas abordados nas redações de concursos e vestibulares são sempre problemáticas que precisam ser investigadas, analisadas e, no caso do Enem e do Provão Paulista, solucionadas. Essa natureza temática marcada por características conflituosas diz muito sobre o que pode ser desenvolvido na elaboração da dissertação.
Alguém poderia alegar que existe, contudo, uma variação no perfil das pautas selecionadas: as provas costumam trazer temas sociais, polarizados ou abstratos. Temas sociais são aqueles facilmente associados ao Enem, relacionados a problemáticas sociais do país; os polarizados são muito frequentes nos exames preparados pela Vunesp, que envolvem sempre questões polêmicas sobre as quais é comum a explicitação – já na frase temática – de visões antagônicas sobre desdobramentos do tema; e os abstratos são frequentes nas provas da Fuvest, exigindo reflexões mais profundas sobre a relação do homem com o outro, com o mundo ou consigo mesmo.
Essa classificação descrita acima procede. No entanto, independentemente desses variados olhares para as questões do dia a dia, é possível afirmar que o conflito está no cerne de todos eles. Logo, reafirmo: os temas abordados nas redações são sempre problemáticas especialmente recortadas para a análise crítica dos candidatos.
Se em tudo há conflito, os caminhos possíveis para a discussão dessas pautas podem ser facilmente definidos. Existem, basicamente, quatro alternativas de argumentação, cabendo aos participantes escolhê-las de acordo com seus conhecimentos sobre o tema em questão.
A primeira possibilidade concentra-se na investigação das causas e origens do problema: o que aconteceu ou ainda acontece para que ele persista, quais são os fatores que provocam o surgimento da situação problemática e que contribuem para sua manutenção.
Outro caminho é discutir as consequências trazidas pelo problema, o que ele gera na sociedade, na vida contemporânea, como ele impacta o indivíduo e/ou o coletivo.
Uma terceira opção consiste no destaque à importância de aspectos afetados pela problemática: grupos, conceitos, valores, direitos, deveres, responsabilidades, etc.
A quarta alternativa busca analisar as relações implicadas pelo tema, ou seja, o olhar dissertativo-argumentativo volta-se para outros saberes ou entraves que dialogam, intimamente, com a problemática investigada, estabelecendo-se a partir desse diálogo esclarecedoras conexões.
Assim, a abordagem argumentativa exigida pode acontecer a partir da análise de causas, consequências, importâncias e relações diversas. Como são necessários, basicamente, apenas dois argumentos para a fundamentação da tese, o candidato pode optar pelas seguintes combinações: causa e causa, causa e consequência, consequência e consequência, causa e importância, consequência e importância, causa e relação, relação e relação, entre outras.
Quer saber como isso funciona na prática? Basta aplicar essas quatro análises argumentativas às propostas de redação. Indubitavelmente, o candidato encontrará o que dizer sobre o tema.
Enfim, sabemos que a vida humana é feita de conflitos, portanto, nada mais natural que eles estejam presentes nas discussões cotidianas e que estas sejam transpostas para as provas de redação, as quais avaliam a capacidade interpretativa, expressiva e argumentativa de cada um. Admito que lidar com problemas não é a forma mais prazerosa e agradável de preencher nossos dias, porém, diante da inevitabilidade disso, vale considerar a analogia proposta pelo educador e psicanalista Rubem Alves: “Ostra feliz não faz pérola”. Em outras palavras, o tema da redação é sempre um problema, mas será a partir dele que cada candidato vencerá um dos mais importantes desafios de sua vida!