Há 30 anos, o Departamento de Cultura e Educação da Prefeitura de Pindamonhangaba divulgava a programação das celebrações pelos 290 anos de emancipação política do município. Os eventos ocorreram entre os dias 7 e 10 de julho de 1995 e foram marcados, principalmente, por premiações, exposições e apresentações artísticas.
No dia 7, foi realizado o primeiro concurso de fotografia da cidade, no antigo Clube Literário. Já no dia 8, aconteceram a abertura da exposição de tapetes arraiolos e apresentações de capoeira, jazz e dança flamenca, além de um show musical da banda Magia do Samba, na praça Monsenhor Marcondes.
Tudo começou no sonho que o amor às artes da Rosana Paganni, especialmente pelo teatro, produziu. O envolvimento na produção teatral teve início no pedido da Irmã Maria José, do Externato São José. Ela foi convidada quando ajudava na cenografia da peça de teatro em que sua filha, a Débora, estava participando. A freira, entusiasmada com o resultado, convidou-a para montar um grupo de teatro. Alugaram um espaço e montaram uma escolinha. Nasceu, então, o Quintal das Artes.
Antes, o desejo era de criar um grupo de estudos; daí evoluiu para uma pequena escola de artes que, no princípio, contava com algumas modalidades artísticas como: jazz, flauta, violão, dança do ventre e teatro. O teatro foi o que deu certo. A Rosana dava essa aula.
Continuaram as produções e os talentos despontaram. Participaram do FESTIL e foram premiados. Os bons resultados começaram a deixar tudo mais sério. “As peças foram ficando muito boas e tudo foi fluindo. Não dá para explicar, foi estudo, intuição e muita dedicação. Parece que tinha uma energia que movimentava tudo, que nos movia nesse lugar. Foi um tempo muito especial e inesquecível, de um grande crescimento para todos. Como aconteceu aquilo tudo? Não sei! Foi fluindo…. Não tinha um projeto especial, ia acontecendo. As coisas iam saindo tão bem-feitas, tão bem equilibradas, com uma cara de coisa grandiosa.” – Disse a Rosana.
E como tudo o que se fazia na produção artística daqueles tempos, não se tinha dinheiro…. Depois que terminava nos perguntávamos: de onde ele saiu?
“Tinha o Binho que fazia os meus cenários. Eu não tinha a menor noção de como fazer. Dava uma ideia e ele ia descobrindo o que fazer, como realizar o que eu imaginava.” O Binho era inspetor de ferramental na Embraer que tinha por hobby trabalhar com marcenaria e serralheria. Tinha uma pequena oficina no fundo da sua chácara e resolvia todas as questões cenográficas do Teatrando, “Cadê Otelo?”, Controvérsias e outros.
Um episódio memorável: Rafael Pedretti. Um dia ele apareceu no Quintal das Artes e falou: “Eu gosto muito de teatro, mas nunca participei de nada assim. Eu não tenho dinheiro para pagar uma mensalidade.” A Rosana sabia das dificuldades dele, até para comer. Então ela disse: “Tudo bem, vamos combinar: No fim das aulas, você vai para a minha casa, almoça, depois vem, limpa e organiza o Quintal das Artes, daí você faz as aulas.” Hoje o Rafa é Doutor em Teatro em Universidade de Florianópolis.
O Teatrando começou sua trajetória com uma peça infantil, depois foi o “Paris Belfort”, em 1997; a seguir “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant”, em 1998; outra infantil, “Praça de Retalhos”, em 1999; “Sândalo, em 2000; “Marcelo, Marmelo, Martelo”, em 2001; por fim o grande sucesso, “O Santo Inquérito”, em 2002.
Conversando com o Afonso Barone: “Quem me lembrou do texto do Santo Inquérito foi a Terezinha, esposa do Mi. Eu também gostava demais. Mostrei para a Rosana e ela se apaixonou. Propus montarmos. Topou de imediato. Ela ficou na Direção e eu assessorando, dando o suporte necessário. Com os bons atores/atrizes do Quintal das Artes iniciamos o processo que foi muito longo, mas altamente satisfatório. Tinha uma marcação triangular favorecendo muito na criação da iluminação e do processo cenográfico. A fogueira do final da peça onde a Branca era morta foi muito especial, muito bem realizada; o cenário era pequeno, mas o resultado, maravilhoso.”
“O Santo Inquérito” representou Pinda no Mapa Cultural Paulista e, passando por todas as fases, chegou à São Paulo ficando entre os dois melhores espetáculos do Estado.
E este foi mais um momento especialíssimo do teatro pindamonhangabense.