Andando pelas ruas da cidade, percebo as alterações que delineiam o panorama urbano. O bairro antes era um mar de casinhas, brancas, azuis, amarelas, com telhado de barro. Algumas, já desgastadas pelo tempo, guardavam lindas histórias. As portas um pouco rangentes exibiam o movimento de gerações inteiras que ali viveram, se divertiram, amaram e sonharam.
Na frente da casinha geralmente havia um jardim, um vaso com árvore frutífera ou simplesmente um banco de madeira. O bairro era como se fosse uma grande família, onde todos se conheciam pelo nome ou apelido. À noite, o silêncio era marcado apenas pelo canto dos grilos e o farfalhar das folhas ao vento.
O tempo implacável trouxe consigo o progresso. As casinhas coloridas começaram a sumir, uma a uma ou de três em três. O som das britadeiras e das máquinas pesadas substituiu o canto dos pássaros. No lugar das belas casinhas, ergueram-se prédios que chamam de “torres”, alguns com janelas espelhadas que confundem os passarinhos e refletem uma luz artificial.
O jardim das belas casinhas deu lugar a garagens subterrâneas, e o banco de madeira foi trocado por uma sala de recepção onde o porteiro controla a entrada e saída das pessoas. Os vizinhos não se conhecem mais. Nos novos prédios, a vida segue um ritmo diferente. Não há mais tempo nem espaço para as conversas de fim de tarde na beira do portão. As crianças brincando na rua sumiram. Agora tudo parece acontecer atrás das paredes frias de concreto, isolado, impessoal e silencioso.
Sinto falta das casinhas, coloridas e alegres, vivas e pulsantes. Não somente por nostalgia, mas porque nelas algo de diferente havia, de humano e caloroso. Foram símbolos de uma vida simples, onde as pessoas não apenas moravam, elas pertenciam ao lugar.
Os novos prédios de moradia ou escritórios, embora funcionais e supermodernos, são necessários para o crescimento urbano, mas parecem crescer sem alma, sem história. Assim, a cidade vai se transformando. Novos contornos ganham espaço, porém parte de sua essência é perdida. E nós ficamos assistindo a tudo, com as lembranças e saudades das casinhas que um dia fizeram parte do bairro e da nossa vida.