
A bondade no ser humano, por definição, é um atributo que mostra a sua preocupação com o outro, e uma disposição em fazer o bem, sendo portanto sinônimo de benevolência. O filósofo grego Platão, um dos mais importantes pensadores do período clássico da Grécia Antiga, autor de “A República” e da “Alegoria da Caverna”, considerava a bondade um reflexo da ideia do Bem, como o sol que ilumina todas as coisas.
Por outro lado, o filósofo francês Jean Jacques Rousseau (Genebra-1712 – Ermenonville, França – 1788), destacado filósofo autor da obra “Do Contrato Social” (1762) e de obras que tiveram forte influência na Revolução Francesa e no progresso do Iluminismo em toda Europa, deixou uma frase famosa: “O ser humano nasce bom, mas a sociedade o corrompe”.
Dessa maneira, vamos entender, a princípio, que as ações do ser humano são, acima de tudo, um evidente reflexo do meio em que a pessoa vive e se constrói gradativamente. Realmente, ser bom, nos conceitos da Filosofia, é estar disposto à prática do Bem (termo oriundo do latim bene), qualidade esta rica de excelência ética vinculada às práticas de elevados sentimentos de aprovação e dever, sendo, no contexto filosófico-religioso, a bondade enquadrada como uma excelsa virtude.
No entanto, convém destacar que esse valor só é atingido quando acompanhado de carinho, respeito, gentileza, e sobretudo de compaixão, como nos ensina o Dalai Lama, líder espiritual tibetano, Prêmio Nobel da Paz em 1989. Ele nos diz que devemos nos entregar ao desarmamento interno da raiva e da avareza (entre outros aspectos), para que tenhamos a condição de palmilhar as sendas do autoconhecimento e do amor ao próximo, visto que os seres humanos são iguais em dignidade, devendo portanto viver com a mente livre e o coração aberto para a prática das virtudes.
Platão nos diz que o “Bem é uma entidade verdadeira, eterna e imutável”, que ocupa um lugar privilegiado e supremo na hierarquia da inteligibilidade, fato este, séculos depois reafirmado e estudado pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche ao nos afirmar que “O bom é aquilo que o homem achou útil, vindo do outro”, portanto um valor a ser cultuado para que este seja autêntico e, ser autêntico e ser bondoso é, ao conviver em harmonia com o seu próximo, dar mais propósito à vida.
Vida que deve ser respeitada, em especial nos tempos hodiernos, em que testemunhamos a explosão de conflitos em todo nosso planeta e milhares de vidas ceifadas. Dias tenebrosos em que o abismo social cresce assustadoramente, e os nossos semelhantes ficam à margem do caminho, sem horizontes de vida, vítimas de todos os males, sobretudo da fome que os castiga e consome. Todos à espera de mãos de bondade estendidas, solidárias, pois esse gesto que se chama “prática da fraternidade”, além de ser benéfico para a saúde mental e espiritual de quem o pratica, com certeza, transforma profundamente o outro e a sociedade.
A verdadeira bondade é como o sol, ela não escolhe onde brilhar, é uma presença livre de julgamentos, que transforma, vence a insensibilidade de muitos, principalmente no nosso país, (que era campeão no futebol) hoje é campeão mundial no desperdício inconcebível de alimentos e de recursos naturais, referência mundial de desrespeito e destruição do meio ambiente!
Comecemos, pois, com a bondade conosco mesmos, aceitando a nossa própria humanidade, nossas falhas e limites, enxergando possibilidades, enfrentando dificuldades imensas, sofrimentos e todas as origens em busca da superação, questionando nossa essência, a nossa existência e sobretudo o nosso papel nesse mundo tão carente e violento em que vivemos.