Estampado na porta principal da Igreja Matriz – Santuário Mariano e Diocesano Nossa Senhora do Bom Sucesso, o vitral que retrata o Nascimento do Menino Jesus foi uma iniciativa do estimado padre João há 94 anos.
Sobre a história do presépio ali retratado, encontramos em pesquisa realizada na edição de 28/1/1984 deste jornal Tribuna do Norte, preciosa crônica de autoria do historiador, advogado Dr. João Laerte Salles (1934/2012).
No referido artigo, comentando a arquitetura imponente da igreja matriz, Salles descreve os portais de acesso ao sagrado templo como: “… elegantes portas encimadas por perfeitos arcos-plenos, que apresentam, a título de arquivoltas, elegantes cimalhas de acabamento”.
Sobre as portas frontais, ele conta que lembram as virtudes teologais e que elas são “as portas da Fé, da Esperança e a da Caridade”, complementando: “…a nossa Matriz segue perfeita orientação dos dispositivos inerentes à arte sacra no tocante à construção das igrejas.”
Revela ainda uma particularidade referente à porta da Esperança, a central, a mais alta das portas do templo: “…durante muito tempo foi guarnecida de paravento de madeira envidraçado, sem nenhuma arte e nem graça”. Para ele, “seu estilo era medíocre e incompatível com a grandeza arquitetônica da igreja”.
Um projeto do padre João
A ideia de um novo paravento teria surgido em 1928, iniciativa do padre João José de Azevedo (1898/1976), na época, o vigário local. Desse sacerdote sempre lembrado pela população cristã pindamonhangabense devido a série de fatos e feitos bondosos, João Salles recorda a brilhante trajetória: “Se tornara Monsenhor e falecera como Camareiro Secreto de Sua Santidade o Papa e Protonatário Apostólico, tendo sido por 50 anos o pároco de Nossa Senhora do Bom Sucesso.”
E prossegue destacando que a ideia do novo paravento dava continuidade “à ornamentação do templo iniciada em 1925, com a reforma da igreja, que mandara proceder quando colocara na capela mor, imponentes vitrôs basculantes representativos de cenas evangélicas, todos eles importados por firma paulista, diretamente da Alemanha.”
A realização dessa importante melhoria para o Santuário Mariano o historiador menciona que fora com a ajuda dos fiéis, com especial participação do pindamonhangabense Dr. Eloy Marcondes de Miranda Chaves. Campanha que resultou na encomenda, na capital, na Casa Garcia, “de um paravento em ferro, com relevos em metal amarelo, com duas portas centrais e uma em cada lateral, representando, em vidros policromados, a cena do presépio e que foi inaugurado no Natal de 1929, durante as cerimônias da Missa do Galo.”
O presépio
Com uma culta explanação, Salles discorre também sobre a cena estampada no vitral: “a cena do presépio é tipicamente napolitana – simples e sublime. Dois anjos laterais, no corpo central do vitral, seguram uma faixa onde se lê: ‘A Igreja é outro presépio de Belém: aqui como lá nasce todos os dias Jesus nas mãos do sacerdote’. No canto direito de quem olha o vitral, a partir do centro da igreja, vê-se uma pequena arca simbolizando uma caixa de presentes do Menino Jesus, onde se lê o nome da firma que realizou o trabalho: Casa Garcia – São Paulo. Nas portas laterais, em cada uma delas, uma inscrição em faixa ‘Silêncio – ‘Oração’, sempre a lembrar ao homem que a igreja é a Casa de Deus, local de recolhimento, meditação e prece.”
A restauração
Oportuno ressaltar que a crônica assunto da Página de História da Tribuna desta edição foi escrita em 1984, quando o pároco era o padre Benedito Gil Claro, sendo ele – conforme o relato de João Salles – o responsável, auxiliado pela contribuição dos fiéis, pela restauração do paravento, que na época se encontrava em péssimo estado, sendo restaurado na mesma firma onde haviam sido executados os serviços em 1928.
A respeito do motivo escolhido pelo padre João para o paravento da Matriz ter sido o ‘Presépio de Belém’, o então mestre em história de Pindamonhangaba concluía considerando sua opinião como fervoroso seguidor da religião católica: “…foi muito feliz, pois, realmente Jesus nasce diariamente e isso acontecerá até o fim dos séculos, em todas as igrejas do mundo, pelas mãos do sacerdote e palavras sacramentais, revivendo sempre o fenômeno da transubstanciação com a transformação das sagradas espécies em Corpo e Sangue de Cristo e a redenção do homem e do mundo, o que só foi possível com a promessa de Deus, que fez seu filho morrer de cruz, pela redenção e salvação da humanidade.”