Chegou segurando um vaso com arbusto. A esposa, que estava no quarto trocando a fralda da sogra, terminou a atividade e foi ao encontro dele.
— Clementina! Duvido que você saiba o que é isso.
— Isso? Qualquer criança sabe que é uma arvorezinha.
— Exato. Mas de que tipo?
— Sei lá. Não sou botânica; sou artesã.
Ele estufou o peito.
— É uma árvore que dá dinheiro. Comprei do Du Ratão por quinhentos. Custava oitocentos, mas consegui desconto.
— Engabelado outra vez, Emiliano!?
— Desta vez, não. Ele me mostrou as cédulas que colheu. Disse que é só aguar. Em três dias começará a dar dinheiro. Ficaremos ricos. Ah, e como sou esquecido, você poderia aguar todos os dias?
— Eu? Esqueceu que, além de todos os afazeres domésticos, também sou cuidadora? E outra: não sou asinina.
— Asinina? O que é isso?
Um mês depois, a árvore continuava improdutiva. Emiliano, com a pressão arterial nas nuvens, procurou Du Ratão para reclamar. Não o encontrou. Receando que o marido pudesse enfartar, Clementina resolveu agir. No dia seguinte, assim que ele acordou, ela esganiçou:
— Amor! Amor! Olha só! Duas de cem!
— A árvore começou a produzir?
— Sim. E está nascendo outra. Por enquanto, só o broto.
Ele foi conferir. Ela contou que, há alguns dias, começou a usar o fertilizante secreto e milagroso da avó. Ele fotografou a árvore e saiu determinado a calar a boca de quem o chamou de idiota lá no bar. A notícia correu e chegou aos ouvidos de Du Ratão.
— Isso é “feique nius”.
— Né não, Du. A esposa do Emiliano colocou um adubo secreto e a árvore começou a produzir.
Du Ratão não acreditou. Mas ficou com a pulga atrás da orelha. “E se fosse verdade?” “Que adubo secreto seria aquele?” Esperou Priscilo ir trabalhar para investigar.
— Dona Clementina, é verdade que vocês têm uma árvore que…
— Dá dinheiro? Temos sim. Começou a produzir quando coloquei o adubo secreto. Tem outra cédula nascendo. Quer ver?
Ele viu e tocou delicadamente no brotinho.
— Impossível! Esse arbusto-pega-trouxa eu arranquei do matagal.
— O que o senhor falou?
— Nada, não. Quanto quer pela árvore e pelo adubo? Eu pago.
Ela fingiu que não queria vender. Como ele insistia, pediu cinco mil. Ele deu dez e foi embora com a árvore e o galão de adubo. Quando o marido chegou, ela contou tudo:
— …E tivemos um baita lucro. As cédulas que mostrei são de nossas economias. O broto na árvore foi obra-prima desta sua artesã.
— E o adubo?
— Adubo? Ah, foi o que colhi das fraldas geriátricas de sua mãe.