Ao longo da História da Filosofia Ocidental, o medo é, às vezes, encarado como algo que nos provoca mal. Entretanto, a ecologia nos assinala que ele é o princípio de uma nova sabedoria, que nos concede consciência dos perigos que existem e ameaçam o nosso sofrido planeta, que tanto maltratamos.
Por que sentimos medo? Certamente para nos preservarmos de situações que colocam a nossa vida, saúde e integridade física em risco, sendo de capital importância na sobrevivência das espécies, seja qual for o grau de complexidade da vida animal. A Neurociência nos explica que, ao enfrentar uma situação causadora de medo, o nosso cérebro (mais precisamente o hipotálamo) é ativado, o que, por sua vez, ativa a hipófise que desencadeia a produção de hormônios como adrenalina, noradrenalina e cortisol. Trata-se de uma situação concreta e real, da qual fugiremos ou enfrentaremos, o que difere da ansiedade, que é algo que não pode acontecer e carece de concretude. Alguns estudiosos dessa área afirmam que o medo, por vezes, encarcera e suprime a potencialidade do ser humano, fazendo com que os mais belos sonhos pareçam distantes e inalcançáveis, originando falta de ação, ansiedade e até depressão. Na prática, parece que as pessoas são mais treinadas para sentir medo (medo de errar, medo de fazer, etc.) do que para sentir coragem nos momentos de decisão, sobretudo nos campos sentimental e do trabalho.
Cremos ser elucidativo o que nos dizem alguns pensadores sobre esse importante fenômeno. O filósofo do período clássico da Grécia Antiga, Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.), considerado o pai da Filosofia, questiona: “Aquele que tem medo e vai à luta, não é mais corajoso que aquele que afirma não sentir medo?” Já o filósofo existencialista alemão Martin Heidegger (1889-1976), autor de “Ser e Tempo”, indagou sobre o assunto: “De que se tem medo? Pelo que se tem medo? Tudo o que atemoriza é ameaçador. Tenho medo porque o meu ser está em jogo.” Heidegger sugere que o medo nos convida a viver na impropriedade, ou seja, a nos alienarmos de nós mesmos, e assegura que o medo, em especial o da morte, nos faz fugir de nós mesmos, de nos apropriarmos dos valores da determinação e da coragem, afastando a possibilidade de sermos nós mesmos e revelarmos a nossa própria história.
Para outro filósofo alemão que marcou a História da Filosofia, Friedrich Nietzsche (1844-1900), autor de “Assim Falou Zaratustra”, o medo funciona como um freio para o ser humano, uma ideia que ele ligava ao conceito estabelecido pela religião, sobretudo pelo catolicismo que ele sempre combateu. Interessante é quando apreciamos o que nos diz o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), fundador da psicologia analítica, para quem a morte é um processo natural da vida. Fugir dela é fugir da vida, e desejamos transcender a morte pelo medo. Dele é a famosa frase: “Onde está o medo, aí está a sua tarefa.” Dessa maneira, Jung associa o medo à oportunidade de autodesenvolvimento e nos convida a reconhecê-lo como caminho para transformação.
Com preocupação, observamos nos tempos atuais, independente da geração (X, Y ou Z), que as pessoas apresentam medo de fazer uma escolha errada ou, o que é pior, não assumem seu medo. Não encarando o grande desafio do enfrentamento com coragem e fé, caem no terrenopantano da insegurança, abdicando das suas potencialidades, o que é temerário, uma vez que muitos dependem das suas decisões. Esse “não enfrentamento” compromete as vidas de muitos semelhantes nossos que não têm voz nem vez.