A gigantesca escultura instalada na rotatória da Rodovia SP – 62 com a Avenida Doutor José Adhemar Cesar Ribeiro, no Distrito de Moreira César, não permite que passemos por ela incólumes. Tão bela quanto os contornos da Serra da Mantiqueira, moldura para a sua magistral presença, todas as vezes que a vejo, sou só admiração!
Arte que nos paralisa, que move nossos olhos para cada detalhe de seu projeto escultórico: os enormes pés, as longas pernas, a vestimenta típica dos primeiros desbravadores do Vale do Paraíba, as mãos empunhando o escudo e a lança, o capacete sobre o semblante fixo no horizonte…
Batizada de “O Guardião” e logo apelidada de “Homem de Lata”, a escultura foi um presente da Villares a Pindamonhangaba em homenagem aos trabalhadores do município. Desde que foi instalada, em 2002, indago: qual o significado da obra e quem a esculpiu?
Recentemente, um amigo registrou uma foto dos dados biográficos do nosso “Homem de Lata” e a enviou para mim. A escultura é de autoria de BELINI ROMANO, artista plástico que, já na infância, criava os próprios brinquedos e, ao concluir Artes Plásticas, abraçou a técnica em sucata mecânica.
Suas obras encontram-se em acervos particulares de vários estados brasileiros e, também, no Japão, França e Espanha! Em sua cidade natal, Mogi das Cruzes, instalou uma obra similar à escultura de Moreira César, “O Bandeirante”, medindo 13 metros de altura e 5 metros de largura – e pesando 3 toneladas!
Embora tenha criado obras menores, as esculturas de grande porte em aço inoxidável definiram o estilo Belini Romano de esculpir. O aço, em seu estado natural, rústico, transforma-se em blocos enormes que, apesar do peso, passam um agradável aspecto de leveza pela elegância das formas e movimentos. A transfiguração do aço em obra de arte só se concretiza se o artista souber aliar à sua criatividade inteligência e sensibilidade!
Dizem que a vida de uma estátua começa no dia em que fica pronta. Eu discordo. A história pregressa de uma obra de arte é parte significativa de sua existência. Por isso, algumas indagações eu teria feito ao Belini se tivesse tido a oportunidade de entrevistá-lo: Como nasceu o projeto? Onde esculpiu? Teve colaboradores? Tempo de execução? Como se deu a logística do transporte e da instalação da escultura em Moreira César? Qual o seu sentimento ao contemplar uma obra desse porte, de sua autoria, no mundo?
Fico a imaginar a chegada do aço ao seu ateliê e os meses de trabalho até que a matéria-prima ganhasse a forma plástica planejada pelo artista… Os cortes precisos, a modelagem de cada parte do corpo e, por fim, a soldagem do nosso “Homem de Lata”, guardião do nosso Distrito, de nossa terra e de nossa gente!
Infelizmente, essas e outras questões ao grande artista permanecerão sem respostas… Em 2021, o Ateliê Bellini Romano encerrou as atividades artísticas do menino escultor que, assim como mais de 600 mil brasileiros, INFELIZMENTE, foi vítima da Covid-19.
“Somos uma obra de arte, modelados pelas mãos da vida em nosso dia a dia” – ele sempre escrevia em suas redes sociais. O tempo, esse grande escultor, modelou o artista por 60 anos, e, assim como suas esculturas, Belini Romano entrou grande e saiu gigante do Ateliê da Vida! Em suas esculturas, Belini Romano vive! Sob o aço inoxidável de suas obras é o seu coração que pulsa!
Juraci de Faria é escritora, poetisa e membro da APL – Academia Pindamonhangabense de Letras