
Em uma sociedade cada vez mais acelerada e polarizada, discordar do outro tornou-se, paradoxalmente, tanto uma necessidade quanto um desafio. A convivência democrática pressupõe diferenças, mas temos dificuldade em lidar com elas. Muitas vezes, confundimos discordância com ataque pessoal, como se ideias fossem extensões inseparáveis da identidade.
No entanto, a divergência saudável é justamente o que impulsiona o pensamento crítico e o amadurecimento coletivo. Quando aprendemos a escutar o que não confirma nossas próprias certezas, abrimos espaço para enxergar nuances que antes ignorávamos. Discordar não significa vencer um debate, mas compreender melhor o mundo e a nós mesmos.
É um exercício de humildade reconhecer que não temos todas as respostas — e de coragem admitir que o outro pode ter algo relevante a dizer. O problema não está em discordar, mas em como discordamos. A agressividade e a desqualificação esvaziam o diálogo e alimentam um ciclo de intolerância. Precisamos recuperar a capacidade de argumentar sem ferir, de divergir sem destruir pontes.
Isso exige empatia, paciência e a disposição de colocar a convivência acima do orgulho. Um editorial que defende o valor da discordância não celebra o conflito, mas o encontro. Lembra que a pluralidade é a essência da vida em comum e que só há avanço quando diferentes vozes podem coexistir sem medo.
Discordar é, portanto, um ato de cidadania — desde que seja feito com respeito, abertura e responsabilidade.








