Dois amigos se encontraram na praça: o barrigudo careca e o magricelo com boné. Sentaram-se no mesmo banco e começaram a conversar.
— Você se lembra do Zé? – perguntou o barrigudo.
— O Zé Pardal?
— Não. O Zé Penugem.
— Aquele de barbinha rala, que mora na zona leste?
— O próprio.
— O que tem ele?
— Morreu.
— Não é possível! Nem sabia que ele estava doente. Ele era mais menino do que nós, não era? Se a memória não me falha, tinha 78.
— 79, dois meses e oito dias, para ser exato.
— Morreu de quê?
— Ficou devendo… pro agiota.
— Então, quer dizer que ele foi se encontrar com a comadre Eudóxia?
— Foi sim.
O barrigudo colocou um cigarro no canto da boca, e contou outra novidade.
— Lembra do Dito?
— Qual Dito? O Dito Cujo?
— Não, não. O Dito Grilo. Lembra?
— Aquele das pernas finas, queixo comprido, orelhas pontudas e caolho?
— Esse mesmo.
— Não vai me dizer que ele também…
— Morreu.
— Morreu de quê?
— Agiota.
Neste momento, o barrigudo vendo o homem de chapéu de couro atravessar a rua, sussurrou:
— Vamos mudar de assunto. Ele está vindo em nossa direção.
— Ele quem?
— O agiota.
O magricelo, extremamente nervoso, enfiou a mão no bolso, pegou a carteira, e dela tirou um maço de notas de cem. Quando o agiota chegou, o magricelo deu a ele o dinheiro e correu enfrentando a artrose.
Curioso, o barrigudo perguntou:
— Pelo jeito ele estava lhe devendo muito dinheiro.
O agiota, lambendo os dedos para contar as cédulas, respondeu:
— Esse magricelo de boné? Nunca vi mais gordo. Eu só atravessei a rua pra pedir um cigarro.









