Antes de aportar em Pindamonhangaba, o artista plástico Sérgio Callipo percorreu diversas cidades em busca do lugar onde edificaria a sua casa e o seu ateliê. Em sua peregrinação pelo Vale do Paraíba, ele conheceu a nossa cultura caipira, apaixonou-se de primeira e, às margens do suntuoso Rio Paraíba que contorna o Bosque da Princesa, ele encontrou o que sempre procurava: matéria-prima para a sua arte e sua vida.
O talento para a escultura em argila ele descobriu muito jovem, aos 13 anos. Autodidata, aprendeu a esculpir utilitários, imagens de santos e de pessoas e, de modo especial, presépios. Até o forno para a queima de suas peças é obra de suas invenções!
No seu ateliê, o dia começa muito cedo: às quatro da manhã! É no raiar do sol que ele encontra inspiração para criar. A argila, em suas mãos, ganha o sopro divino da arte. E o que era terra, matéria inanimada, transforma-se num rosto, num corpo, numa expressão maior da divindade artística, graças à sua amorosa minúcia de escultor e aos sagrados elementos do fogo, do ar e da água que só ele sabe dosar.
Ao longo de 50 anos de carreira, suas peças adquiriram uma identidade própria. As imagens de São Francisco e os presépios de Sergio Callipo ganharam o mundo com uma linguagem escultórica singular que dispensa assinatura ou inscrições autorais sob as peças.
A trajetória de Sergio Callipo demonstra, desde seus começos, uma expressão mais sublime da arte que nasce do barro! Seu talento tem sido reconhecido no Vale do Paraíba e no Brasil. Em 2004, o artista venceu o Concurso Nacional de Presépios – com 465 mil votos – com um presépio contendo 16 peças de 20 a 30 cm de altura esculpidas num cupinzeiro. De modo análogo, a obra “O Criador”, em que o próprio São Francisco esculpe o seu primeiro presépio – “Jesus, Maria e José” -, foi agraciada com o 1º lugar no 9º Concurso Cultural de Presépios do Vale do Paraíba (Campos do Jordão, janeiro de 2017).
Inspirado no cotidiano caipira de nossa terra e de nossa gente, o presépio de Sérgio Callipo de 2017 expressa a história do Vale do Paraíba. Nossa Senhora é representada por uma lavadeira; São José, por um piraquara (pescador); o menino Jesus, por um bebê índio (referência aos Puris); os Reis Magos enaltecem a miscigenação racial (um Rei é um escravo com uma mula com feixes de cana-de-açúcar; o outro Rei é um agricultor com balaios de café: o outro é um pecuarista com uma mula com latões de leite). Sob a proteção de um anjo de Deus, os animais típicos de nossa região, representados pela capivara, esquilo, coruja, macaco, anta, lobo guará, joão-de-barro e porco, saúdam o nascimento do Cristo.
Pouso os olhos sobre a delicadeza de cada uma de suas 20 peças e, acolhido na manjedoura de argila, o Deus menino me abre singelamente os braços. Peço-Lhe bênçãos para esse artista “de olhos esverdeados e coração valeparaibano” que o esculpiu.
O menino Deus me sorri. Eu compreendo. Sergio Callipo é um homem abençoado! “Os homens abençoados são aqueles que penetraram grutas profundas à procura do desconhecido – a sabedoria, a ciência, a arte. Ao revelar o que estava escondido, ofereceram um banquete àqueles cuja alma precisava deste alimento para aliviar as dores da vida” (Felícia Leirner).
A arte de Natal de Sergio Callipo é justamente isto: alimento! Ora dela recebemos um abraço divino, ora um beijo de amor do Criador!
Juraci de Faria é escritora, poetisa e membro da APL – Academia Pindamonhangabense de Letras