Quer um conselho de amigo? Quando for visitar o museu de nossa cidade, não deixe para sair de lá próximo do horário de fechamento. É muito arriscado. Por quê? Você sabia que ele é assombrado? Não acredita? Vou lhe contar o que aconteceu comigo.
Há alguns anos, conheci uma belíssima intercambista portuguesa na casa de um amigo meu. Que mulher! Eu, que não sou nada bobo, me ofereci para ciceroneá-la pelos pontos turísticos da cidade. Para começar, sugeri que fôssemos ao Palacete Visconde da Palmeira, mais conhecido como museu. Ela aceitou.
Fui buscá-la na tardezinha do dia seguinte, com alguns versos na ponta da língua, pois meu amigo dissera que ela amava poesias. Durante o percurso arrisquei:
“Dizem que a rosa é a mais bela,/ eu não concordo, porque/ entre as flores que eu conheço/ a mais sublime é você”.
Não sei se ela enrubesceu por timidez ou para conter a gargalhada. Na dúvida, a partir de então, eu não disse mais nada.
Depois de um quarto de hora chegamos ao destino. Aproveitei para inaugurar a visita, levando-a ao pavimento superior, de onde vimos o sol se preparando para dormir no colo da Serra da Mantiqueira. Ela ficou extasiada. Em seguida, levei-a até a carruagem. Ela não se conteve: entrou no veículo, mesmo sabendo que era proibido.
— Desde menina eu estava a sonhar em viajar qual princesa num coche igual a esse. Senta-te cá comigo. O que estás a esperar?
Não resisti. Ela me olhou nos olhos e sorriu deliciosamente. Deslizei meus dedos pelos cabelos dela, até tocar-lhe a nuca. Vagarosamente fui me aproximando e quando meus lábios ficaram próximos dos lábios dela, fechei os olhos preparando o beijo. Ela gritou:
— O que é isso?!
Pensei que fosse por causa do meu atrevimento. Não era. Ela havia encontrado um calçado antigo num vão da carruagem.
— Deixe-o aí. É tarde. Vamos embora. As luzes do museu já foram apagadas – adverti, aborrecido.
Deslocamo-nos até a entrada e adivinhe? A porta estrava trancada. Tentamos ligar para o nosso amigo, mas meu celular e o telemóvel dela não funcionaram. De repente, uma lufada fria desceu da escada que dava acesso ao pavimento superior, trazendo a mulher mais pálida do que vela de batismo. De olhos arregalados ela nos disse:
— O baile já haverá de começar. Onde vós haveis colocado o meu sapato? Se não me derdes, não partireis daqui.
Apesar dos calafrios, encorajei-me e informei que o calçado estava na carruagem. Naquele instante, ouvimos a fechadura ser destrancada e vimos a mulher se evaporar.
A portuguesa não quis ficar nem mais um dia no Brasil. E eu, desde então, só vou ao museu no período da manhã.